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FATOS E FICÇÕES DO FILME: LEGÍTIMO REI

Foto do escritor: História MedievalHistória Medieval

Legítimo Rei - Netflix
Legítimo Rei - Netflix

O filme Legítimo Rei (2018), dirigido por David Mackenzie, é uma narrativa épica que se concentra na vida de Robert the Bruce (Roberto I da Escócia), interpretado por Chris Pine. O longa-metragem retrata a luta de Bruce pela independência da Escócia após a execução de William Wallace, imortalizado no filme Coração Valente. Embora o filme busque capturar a essência do período e a complexidade de Bruce, ele toma liberdades artísticas que divergem dos registros históricos. E hoje, exploraremos os fatos e as ficções presentes no filme, destacando o que é real e o que foi dramatizado.


1. A Representação de Robert the Bruce: Herói ou Anti-Herói?


No filme, Robert the Bruce é retratado como um homem dividido entre sua lealdade à coroa inglesa e seu desejo de libertar a Escócia. Essa dualidade é historicamente precisa. Bruce era inicialmente um nobre que oscilava entre apoiar os ingleses e os escoceses, buscando consolidar seu próprio poder. Segundo o historiador G.W.S. Barrow:


"Bruce era um político astuto, que viajou um caminho complexo antes de se comprometer totalmente com a causa da independência escocesa"

(Barrow, Robert the Bruce and the Community of the Realm of Scotland, 1988, p. 56).


Ficção: O filme sugere que Bruce era um líder relutante, quase acidental, que só assume a causa escocesa após uma jornada de autodescoberta. Na realidade, Bruce já era um líder ambicioso e estrategista muito antes de se tornar rei.


2. A Coroação de Robert the Bruce


O filme retrata a coroação de Bruce em 1306 como um evento clandestino e precário, realizado em uma cerimônia simples. Isso é historicamente preciso. Após assassinar seu rival, John Comyn, em uma igreja em Dumfries, Bruce foi coroado às pressas em Scone, sem a Pedra do Destino, um símbolo tradicional da realeza escocesa. O cronista John Barbour descreve a coroação como:


"um ato de desafio, realizado em meio ao caos e à incerteza"

(Barbour, The Brus, século XIV).


Fato: A coroação de Bruce foi de fato um momento crucial, mas também controverso, pois dividiu a nobreza escocesa.


3. A Batalha de Loudoun Hill: Realismo e Licenças Artísticas


O clímax do filme é a Batalha de Loudoun Hill (1307), onde Bruce derrota um contingente inglês superior em número. O filme retrata a batalha com relativa precisão, mostrando como Bruce usou o terreno pantanoso e estreito para neutralizar a cavalaria inglesa. Essa vitória foi um marco importante na guerra de independência da Escócia.


Ficção: O filme exagera o papel de Bruce como um líder que luta na linha de frente, quase como um soldado comum. Embora ele fosse um guerreiro habilidoso, sua principal função era estratégica, não combatente.


4. A Representação dos Personagens Secundários


O filme apresenta personagens fictícios, como o jovem escudeiro James Douglas (interpretado por Aaron Taylor-Johnson), que é retratado como um aliado leal e quase irmão de Bruce. Embora Douglas tenha sido um dos principais apoiadores de Bruce, sua relação no filme é romantizada. Segundo o historiador Michael Brown, "Douglas era um líder por direito próprio, não um seguidor subserviente" (Brown, The Wars of Scotland, 2004, p. 89).


Ficção: A amizade íntima entre Bruce e Douglas é uma criação dramática. Além disso, o filme omite outros aliados importantes, como Thomas Randolph e Edward Bruce.


5. A Jornada de Bruce: Uma Narrativa Heroica


O filme retrata Bruce como um líder que redescobre sua conexão com o povo escocês ao viajar pelo país e interagir com camponeses. Embora isso seja uma simplificação, há elementos de verdade nessa representação. Bruce precisou do apoio das comunidades locais para sustentar sua campanha contra os ingleses.


Ficção: A jornada de Bruce como um príncipe perdido que redescobre seu propósito é uma narrativa dramatizada. Na realidade, ele já era um líder experiente e estrategista antes de se tornar rei.


6. A Representação dos Ingleses


Os ingleses são retratados no filme como opressores cruéis e implacáveis. Embora isso reflita a visão escocesa da época, o filme simplifica a complexidade das relações entre os dois reinos. Nem todos os nobres escoceses apoiavam a independência, e muitos colaboraram com os ingleses por interesse próprio.


Fato: A brutalidade das campanhas inglesas, especialmente sob o comando de Eduardo I, é bem documentada. O filme captura corretamente o clima de opressão e resistência.


7. O Legado de Robert the Bruce


O filme termina com Bruce consolidando sua liderança e preparando-se para continuar a luta pela independência. Isso é historicamente preciso, pois Bruce passou os anos seguintes consolidando seu poder e derrotando os ingleses em batalhas decisivas, como a Batalha de Bannockburn (1314).


Ficção: O filme não explora o impacto duradouro de Bruce, como o Tratado de Edimburgo-Northampton (1328), que garantiu a independência da Escócia.


Conclusão


O Legítimo Rei é uma obra que combina história e drama de maneira cativante, mas que toma liberdades artísticas para criar uma narrativa emocionalmente envolvente. Embora o filme não seja completamente fiel aos fatos históricos, ele captura a essência de Robert the Bruce como um líder transformado pela guerra e pelas responsabilidades do poder. Para os entusiastas da história medieval, o filme serve como um ponto de partida para explorar a vida e o legado de uma das figuras mais fascinantes da Escócia.


 

Fontes e Referências

Barrow, G.W.S. Robert the Bruce and the Community of the Realm of Scotland. Edinburgh University Press, 1988.


Barbour, John. The Brus. Século XIV.


Brown, Michael. The Wars of Scotland, 1214-1371. Edinburgh University Press, 2004.


Penman, Michael. Robert the Bruce: King of the Scots. Yale University Press, 2014.


Watson, Fiona. Under the Hammer: Edward I and Scotland, 1286-1307. John Donald, 1998.

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