Nesse artigo irei frisar primeiramente a questão fora do credo popular brasileiro, que é atribuído ele como santo "casamenteiro".
Como dito no artigo anterior, ele é padroeiro dos artigos perdidos e roubados, o motivo de invocar a ajuda de Santo Antônio para encontrar coisas perdidas ou roubadas remonta a um incidente em sua própria vida. Conforme a história continua, Antônio tinha um livro de salmos que era muito importante para ele. Além do valor de qualquer livro antes da invenção da impressão, o saltério tinha as notas e comentários que fez para usar no ensino dos alunos de sua Ordem Franciscana.
Um noviço que já estava cansado de viver a vida religiosa decidiu deixar a comunidade. Além de sumir sem avisar ninguém, ele também levou o saltério de Antônio! Ao perceber que seu saltério estava desaparecido, Antônio orou para que ele fosse encontrado ou devolvido a ele. E depois de sua oração, o noviço "furtador" foi levado a devolver o saltério a Antônio e à Ordem, que o aceitou de volta. A lenda bordou um pouco essa história, seria algo como:
Tem o noviço parado em sua fuga por um demônio horrível, brandindo um machado e ameaçando pisoteá-lo se ele não devolvesse o livro imediatamente.
Obviamente, um demônio dificilmente ordenaria que alguém fizesse algo bom. Mas o cerne da história parece ser verdadeiro. E o livro roubado está preservado no convento franciscano de Bolonha.
De qualquer forma, logo após sua morte, as pessoas começaram a orar por meio de Antônio para encontrar ou recuperar artigos perdidos e roubados. E o Responsório de Santo Antônio composto por seu contemporâneo, Juliano de Pináculos, OFM, proclama:
“O mar obedece e grilhões se quebram, E membros sem vida tu deves restaurar, Enquanto tesouros perdidos são encontrados novamente, Quando jovem ou velho teu auxílio implora.”
Pão de Santo Antônio é um termo usado para as ofertas feitas em ação de graças a Deus pelas bênçãos recebidas por meio das orações de Santo Antônio. É prática em algumas igrejas abençoar pequenos pães na festa de Santo Antônio e dá-los a quem os deseja.
Diversas lendas ou histórias contam para a doação do chamado Pão de Santo Antônio. Pelo menos um relato remonta a 1263, quando se diz que uma criança se afogou perto da Basílica de Santo Antônio, que ainda estava em construção. Sua mãe prometeu que se a criança fosse devolvida, ela daria aos pobres uma quantidade de farinha igual ao peso da criança. Sua oração e promessa foram recompensadas com o retorno do menino à vida.
Outra razão para a prática remonta a Louise Bouffier, uma lojista em Toulon, França. Um chaveiro estava preparado para arrombar a porta de sua loja depois que nenhuma chave a abrisse. Bouffier pediu ao chaveiro para tentar suas chaves mais uma vez depois que ela orou e prometeu dar pão aos pobres em homenagem a Santo Antônio se a porta se abrisse sem força. A porta então se abriu. Depois que outros receberam favores por intercessão de Santo Antônio, eles se juntaram a Louise Bouffier na fundação da instituição de caridade St. Anthony's Bread.
Outro milagre muito difundido sobre Santo Antônio é conhecido como milagre da mula, Antônio ouviu falar de um homem em Rimini chamado Bononillo, que não compartilhava da mesma crença. Na verdade, Bononillo zombava abertamente das pessoas que acreditavam que Jesus estava realmente presente sob as aparências do pão e do vinho, sendo carne e sangue segundo a crença católica. Santo Antônio tentou ao máximo convencer Bononillo com as provas das escrituras e argumentos, mas descobriu que o homem era teimoso como uma mula.
Então Santo Antônio recebeu uma inspiração. Ele desafiou o comerciante:
“Se a mula em que você monta adorasse o Corpo de Cristo na Eucaristia, você acreditaria na verdade do Santíssimo Sacramento?”
Bononillo concordou, mas decidiu aumentar as apostas. Bononillo deixaria sua mula passar fome por três dias e depois a levaria para a praça da cidade. Antônio traria a hóstia consagrada para a praça, e Bononillo levaria uma pilha de feno. O que aconteceria a seguir iria decidir o vencedor.
Passado os três dias Bononillo levou a mula e o feno para praça, e claro, assim como Santo Antônio levou a Eucaristia. Uma multidão considerável se reuniu na praça, curiosa para assistir a uma visão tão notável. Com um sorriso nos lábios, o duvidoso, acreditando que a vitória já era sua, colocou uma pilha de feno diante do animal. O animal com fome se afastou da comida oferecida e se virou em direção à Hóstia erguida por Santo Antônio. Com um movimento gracioso não característico de sua raça, a mula se curvou até o chão, em sinal de reverencia. Não se endireitou ou se levantou novamente até que recebeu permissão de Antônio para fazê-lo.
Santo Antônio e o Menino Jesus
Santo Antônio foi retratado por artistas e escultores de todas as maneiras. Ele é retratado com um livro nas mãos, com um lírio ou uma tocha. Ele foi pintado pregando aos peixes, segurando uma custódia com o Santíssimo Sacramento na frente de uma mula ou pregando em praça pública ou de uma nogueira.
Mas, desde o século XVII, é mais comum encontrarmos o santo mostrado com o menino Jesus nos braços ou mesmo com a criança em pé sobre um livro que o santo segura. Uma história sobre Santo Antônio contada na edição completa de Vidas dos Santos de Butler (editada, revisada e complementada por Herbert Anthony Thurston, SJ e Donald Attwater) projeta no passado uma visita de Antônio ao Senhor de Chatenauneuf. Antonio estava orando noite adentro quando de repente a sala se encheu de uma luz mais brilhante do que o sol. Jesus então apareceu a Santo Antônio sob a forma de uma criança. Chatenauneuf, atraído pela luz brilhante que enchia sua casa, foi atraído para testemunhar a visão, mas prometeu não contar a ninguém até depois da morte de Santo Antônio. Alguns podem ver uma semelhança e conexão entre esta história e a história da vida de São Francisco quando ele reencenou em Greccio a história de Jesus.
Essas histórias ligam Antônio a Francisco em um sentimento de admiração a respeito do mistério da encarnação de Cristo. Para Antônio, como para Francisco, a pobreza era uma forma de imitar Jesus que nasceu no estábulo (mas claro, Jesus não era pobre).
Em Portugal, Itália, França e Espanha, Santo António é o padroeiro dos marinheiros e pescadores. De acordo com alguns biógrafos, sua estátua às vezes é colocada em um santuário no mastro do navio. E os marinheiros às vezes o repreendem se ele não responde com rapidez suficiente às suas orações.
Não apenas aqueles que viajam pelos mares, mas também outros viajantes e veranistas oram para que possam ser mantidos em segurança por causa da intercessão de Antônio. Várias histórias e lendas podem ser responsáveis por associar o santo a viajantes e marinheiros.
Primeiro, há o fato muito real das próprias viagens de Antônio na pregação do evangelho, particularmente sua jornada e missão de pregar o evangelho no Marrocos, uma missão interrompida por uma doença grave. Mas depois de sua recuperação e retorno à Europa, ele era um homem sempre em movimento.
Há também a história de duas irmãs franciscanas que desejavam fazer uma peregrinação a um santuário de Nossa Senhora, mas não conheciam o caminho. Supõe-se que um jovem se ofereceu para guiá-los. Ao retornar da peregrinação, uma das irmãs anunciou que foi seu padroeiro, Antônio, quem as guiou.
Ainda outra história diz que em 1647 o padre Erastius Villani de Pádua estava voltando de navio para a Itália de Amsterdam. O navio com sua tripulação e passageiros foi pego por uma tempestade. Tudo parecia condenado. O Padre Erastius encorajou todos a rezar a Santo Antônio. Em seguida, ele jogou alguns pedaços de pano que tocaram uma relíquia de Santo Antônio no mar revolto. Imediatamente, a tempestade acabou, os ventos pararam e o mar ficou calmo.
O Santo Casamenteiro
Santo Antônio, padroeiro dos marinheiros e pescadores e também dos objetos perdidos, aqui no Brasil é forte sua crença como "casamenteiro", um desses "milagres" diz que uma moça percebeu que sua família não teria dinheiro para pagar o dote necessário para que ela se casasse - como era costume na época. Assim, ajoelhou-se aos pés de uma imagem do santo e pediu sua intercessão. Então, lhe apareceu um bilhete que dizia para que ela procurasse um certo comerciante, no qual lhe daria a quantidade de moedas que equivalesse ao peso desse papel.
Ela encontrou o comerciante e deu a ele o bilhete. O homem pouco se importou, pois achou que o peso daquele bilhete era praticamente nulo. Mas, para a surpresa de todos, foram necessários 400 moedas de prata para que a balança atingisse o equilíbrio. Nesse momento, aquele comerciante se lembrou que, em um momento anterior, havia prometido o mesmo valor ao santo e nunca havia cumprido a promessa. Assim, Santo Antônio ajudou a jovem a se casar.
Outra lenda conta uma outra mulher, também devota, não aguentava mais estar solteira por tanto tempo. Em um momento de raiva, ela pegou o santo e o arremessou janela à fora. A imagem acabou acertando um homem na rua. A moça foi socorrê-lo, pediu desculpas e logo eles iniciaram uma conversa que, posteriormente, se transformou em amor e eles se casaram. Com esse ocorrido, se espalhou a noticia que Santo Antônio ajudaria as pessoas a se casarem, e várias simpatias nasceram disso, como colocar a imagem do santo em um copo com água, colocar uma fita com o nome da pessoa amarrada ao santo, comer um pedaço do bolo e achar um santinho em meio a ele.
Professor, Pregador, Doutor em Escrituras
Entre os próprios franciscanos e na liturgia de sua festa, Santo Antônio é celebrado como mestre e pregador extraordinário. Ele foi o primeiro professor da Ordem Franciscana, recebendo a aprovação e bênção especial de São Francisco para instruir seus irmãos franciscanos. Sua eficácia como um pregador chamando as pessoas de volta à fé resultou no título de “Martelo dos Hereges”. Tão importante quanto foi sua pacificação e apelos por justiça.
Ao canonizar Antônio em 1232, o Papa Gregório IX falou dele como a “Arca do Testamento” e o “Repositório da Sagrada Escritura”. Isso explica por que Santo Antônio é frequentemente retratado com uma luz acesa ou um livro das Escrituras nas mãos. Em 1946, o Papa Pio XII declarou oficialmente Antônio um Doutor da Igreja Universal.
Canonização e Santidade
Nem bem foi sepultado em Pádua, no dia 17 de junho de 1231, começaram a pipocar pela região relatos de milagres atribuídos à intercessão daquele que já era chamado de santo ainda em vida. Seu túmulo começou a atrair devotos e pagadores de promessa.
Menos de um mês após sua morte, o bispo Jacopo Corrado (?-1239) solicitou ao papa Gregorio IX (1170-1241) que abrisse um processo para canonizar o frade. Admirador dos franciscanos, o sumo pontífice, que havia conhecido Antônio em vida, aceitou. Mas houve uma resistência na cúpula da Igreja.
O maior problema seria canonizar, quase que sequencialmente, dois frades franciscanos — além de tudo, uma ordem fundada há tão pouco tempo, em 1209. Francisco de Assis (1181 ou 1182-1226) havia sido oficializado santo, pelo mesmo papa Gregório IX, em 1228.
A celeuma político-clerical foi contornada com um apelo popular materializado em enxurrada de histórias de milagres. Em uma época em que os processos de canonização careciam das padronizações metodológicas hoje existentes, o papa mandou criar duas comissões: em Pádua, conferiu poderes ao bispo Corrado e aos superiores dos beneditinos e dos dominicanos para que reunissem casos milagrosos e examinassem as pessoas que se diziam curadas; em Roma, designou dois cardeais para analisarem os relatórios.
A esses esforços foram juntados documentos produzidos por dois cardeais que, em visita à região de Milão, também coletaram narrativas de prodígios ocorridos, de acordo com a fé popular, graças a Antônio.
O documento que serviu para justificar sua canonização acabou reunindo, depois desses crivos, 53 milagres atribuídos a sua intercessão. A grande maioria dizia respeito a problemas de saúde, de paralisias a surdez, passando pela fantástica história de uma menina que teria morrido afogada e voltado a viver. Alguns dos casos listados, contudo, são mais prosaicos — como o de uma taça de vidro atirada contra a parede — apenas para testar o poder do santo — que não teria se quebrado e de tripulantes de um barco à deriva que, em meio a uma tempestade, fiaram-se em Santo Antônio para reencontrar o caminho de volta.
Em 30 de maio de 1232, menos de um ano após a morte do franciscano, papa Gregório IX anunciou que Antônio já podia ser eternizado no rol dos santos da Igreja. "Em honra e louvor à Santíssima Trindade e para exaltação da santa Igreja, inscrevemos o servo de Deus, Frei Antônio, confessor da Ordem dos Frades Menores, no catálogo dos santos, e ordenamos que a sua festa seja celebrada todos os anos em 13 de junho", declarou o pontífice.
Em 13 de junho daquele ano, a missa do primeiro aniversário da morte dele foi especial para a cidade de Pádua: não só ele podia ser chamado de santo, como foi lançada ali a pedra fundamental da construção do santuário a ele dedicado: é a base da mesma construção atual, oficialmente Pontifícia Basílica Menor de Santo Antônio de Pádua — que seria concluída apenas em 1310 e, com o passar dos séculos, passou por várias reformas e modificações.
Mas se nenhum dos milagres compilados pelo Vaticano tratava de casamento, de onde veio essa fama? Para hagiógrafos, há algumas explicações. A primeira é que, ainda em vida, ele teria sido um grande opositor dos casamentos combinados por interesse entre famílias, o que ele chamava de mercantilização do sacramento — defendia que os casais fossem formados por amor.
Há ainda uma versão, com contornos de lenda, de que ele teria desviado, certa vez, donativos recebidos pela Igreja, para ajudar uma moça a conseguir dinheiro suficiente para o dote que era necessário ao seu casamento.
"Ele é arranjador de bons casamentos somente em alguns países. Na maior parte dos países europeus e nos Estados Unidos, o santo dos namorados é São Valentim"
lembra o teólogo Susin.
"Na biografia de Santo Antônio e nas lendas medievais não há nada que sugira esse título. Mais tarde, porém, o santo de Lisboa e Pádua substituiu, nas lendas populares, o deus romano Mercúrio como o mensageiro de boas notícias, o portador e o intérprete de boas encomendas."
Na Itália e em alguns países latinos esta permanece sua qualidade especial", prossegue. "Talvez o fato de Antônio levar a Palavra de Deus para o povo como boa notícia, e o povo procurar sua palavra, seja a origem do santo que acha o que foi perdido, que acha o que é difícil, e acerta no amor.
Fonte - Santo Antônio de Pádua: A história de sua vida e devoções populares, publicado em comemoração ao centenário do Mensageiro de Santo Antônio pelo padre franciscano Norman Perry
Anthony of Padua, Sermones for the Easter Cycle, Franciscan Institute Publications, 1994, ISBN 978-1-57659-041-6
St. Anthony, Doctor of the Church, Franciscan Institute Publications, 1973, ISBN 978-0-8199-0458-4
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