Codex Gigas: O Livro do Diabo
- História Medieval

- 30 de out.
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Em meio à penumbra silenciosa dos mosteiros do século XIII, quando a pena e o pergaminho eram as ferramentas mais poderosas do saber, surgiu uma das obras mais misteriosas de toda a Idade Média: o Codex Gigas, conhecido também como o Livro do Diabo. Majestoso em tamanho e enigmático em conteúdo, esse manuscrito é uma síntese perfeita do espírito medieval — a união paradoxal entre a fé e o medo, o sagrado e o profano, o humano e o sobrenatural.
Com quase um metro de altura e pesando cerca de setenta e cinco quilos, o Codex Gigas é o maior manuscrito iluminado sobrevivente da Idade Média. Produzido, segundo as análises paleográficas, em torno do ano de 1229, em um mosteiro beneditino da Boêmia, o códice se destaca não apenas por suas dimensões colossais, mas também pela aura de mistério que o envolve há séculos.A tradição o descreve como uma obra nascida de um pacto demoníaco, escrita em uma única noite por um monge que, para escapar da condenação eterna, teria invocado o próprio diabo em busca de auxílio. Assim, o “Livro do Diabo” ganhou fama de amaldiçoado — mas também de divinamente magnífico.
O fascínio que o Codex Gigas desperta não está apenas em sua lenda, mas em sua materialidade. Composto de 310 folhas de pergaminho de vitela, provavelmente feitas com peles de mais de 160 animais, o manuscrito contém a Bíblia completa em latim (Vulgata), os escritos de Flávio Josefo, os tratados de Isidoro de Sevilha, textos de medicina e exorcismos, além de crônicas e fórmulas mágicas. No centro do códice, uma imponente ilustração do diabo — de corpo monstruoso e olhar penetrante — rompe a serenidade do texto sagrado, tornando-o um ícone singular do imaginário medieval.
Mas para compreender o Codex Gigas é necessário ir além do mito.A obra, em sua essência, é fruto de um tempo em que o livro era a materialização da alma do monge, e o ato de escrever equivalia a uma forma de oração. Os mosteiros eram não apenas centros de fé, mas também laboratórios de conhecimento, onde se copiavam as Escrituras, os tratados de Aristóteles e as histórias de santos e pecadores. Nesse contexto, o Codex Gigas não é apenas uma curiosidade demoníaca, mas um testemunho da ambição intelectual e espiritual do mundo beneditino.
O historiador Dick Harrison, em seu estudo sobre o manuscrito preservado na Biblioteca Nacional da Suécia, lembra que o Codex não deve ser visto como um livro isolado, mas como “a encarnação física de uma época em que a palavra escrita tinha poder de invocação e a leitura era um ato de fé”. Para os monges do século XIII, cada letra era uma ponte entre o humano e o divino — e talvez por isso, o “Livro do Diabo” seja, paradoxalmente, uma das mais intensas manifestações do desejo de salvação.
Ao longo dos séculos, o Codex Gigas viajou entre abades e imperadores, resistiu a guerras e incêndios, e chegou até nós envolto em mistério.Mas, como toda obra nascida na fronteira entre o sagrado e o proibido, ele é também um espelho: revela tanto os segredos do tempo que o gerou quanto as obsessões da modernidade que ainda o interpreta.
O Contexto Monástico e Intelectual da Boêmia Medieval
Para compreender o nascimento do Codex Gigas, é indispensável mergulhar no universo espiritual e intelectual dos mosteiros da Boêmia — uma das regiões mais vibrantes e enigmáticas do Sacro Império Romano-Germânico durante o século XIII.Ali, entre colinas arborizadas e claustros silenciosos, florescia uma cultura profundamente marcada pelo ascetismo, pela erudição e pela crença no poder salvífico da palavra escrita.
A Boêmia medieval, hoje parte da República Tcheca, era então um território que vivia sob o domínio político do Império e sob forte influência da cristandade latina.Desde o século X, após a conversão do duque Boleslau I, a região tornou-se um foco importante de cristianização e monasticismo, atraindo ordens religiosas — sobretudo beneditinos e cistercienses — que viam nos vales boêmios um refúgio ideal para a vida contemplativa. Esses monges trouxeram consigo a tradição do scriptorium, o ateliê onde se copiavam manuscritos, e o ideal de que o saber era um caminho de glorificação divina. Nos mosteiros, o livro não era apenas um instrumento de estudo, mas um objeto sagrado, um espelho da Criação. Copiar um texto era uma forma de oração, e cada linha traçada no pergaminho equivalia a um ato de penitência.Essa devoção à escrita explica por que muitos manuscritos medievais — e o Codex Gigas em particular — são tão extraordinários: cada página representa anos de disciplina espiritual, arte caligráfica e paciência quase sobre-humana.
Entre os centros monásticos da Boêmia, destaca-se o mosteiro beneditino de Podlažice, fundado por volta do século XII, que teria abrigado o escriba do Codex Gigas. Embora pequeno e relativamente pobre, o mosteiro fazia parte de uma rede de mosteiros beneditinos que se estendia de Praga até Olomouc, conectando intelectualmente a Boêmia a centros de saber como Reims, Cluny e Monte Cassino.A Regra de São Bento — ora et labora — estruturava o cotidiano desses monges, divididos entre a oração coral, o trabalho manual e o estudo das Escrituras.
Foi nesse ambiente de silêncio e disciplina que o Codex Gigas nasceu: não apenas como obra de erudição, mas como expressão da alma monástica. O escriba — cuja identidade permanece desconhecida — teria sido um homem de vasto conhecimento e habilidade. As análises paleográficas indicam que todo o texto foi escrito por uma única mão, o que reforça tanto a coerência do manuscrito quanto a magnitude do esforço envolvido. Cada letra, desenhada com regularidade quase mecânica, demonstra uma precisão que só poderia ser alcançada por um copista altamente treinado — ou, como diria Le Goff, “por um homem que transformou o gesto da escrita em um ato de redenção”.
Os Mosteiros como Guardiões do Saber
Na Europa medieval, os mosteiros funcionavam como verdadeiras universidades antes das universidades.Ali, preservava-se o legado da Antiguidade: Aristóteles, Cícero, Virgílio, e também os Padres da Igreja.A Boêmia, sob a influência do arcebispo de Praga e das escolas de latim, tornou-se um polo de erudição.Os monges beneditinos não apenas copiavam livros, mas também traduziram, comentaram e adaptaram textos clássicos à luz da teologia cristã.Essa síntese entre fé e razão — tão típica do século XIII — ecoa no conteúdo do Codex Gigas, que reúne a Bíblia, textos históricos, medicina e magia. É como se o manuscrito condensasse todo o conhecimento do mundo cristão em uma única obra.
O monge que o produziu, portanto, não foi um simples copista.Ele era um erudito, um homem capaz de navegar entre as Escrituras e os tratados de Flávio Josefo, entre a exegese bíblica e as práticas médicas da época.A integração desses temas revela o espírito do humanismo monástico — uma forma de universalismo cristão anterior ao Renascimento — onde o conhecimento não se opunha à fé, mas a completava.
O Simbolismo do Livro como Corpo e Alma
Os monges medievais viam o livro como uma extensão do corpo e da alma.O pergaminho, feito de pele animal, era o “corpo”; a tinta, o “sangue”; o texto, a “alma”. Cada obra escrita era, portanto, um ser espiritual. No caso do Codex Gigas, essa metáfora atinge o extremo: o manuscrito é literalmente feito de dezenas de peles de bezerro, costuradas em um só volume, um corpo monstruoso que contém a palavra de Deus — e a imagem do diabo.Essa ambiguidade não é acidental: ela reflete o modo como o pensamento medieval compreendia a Criação, sempre atravessada por tensões entre o bem e o mal, o corpo e o espírito, o humano e o divino.
Não surpreende, portanto, que a lenda do Codex Gigas tenha florescido em torno de um monge penitente que teria vendido sua alma para concluir a obra. No imaginário medieval, um livro dessa magnitude não poderia ser fruto apenas do esforço humano — devia ter algo de sobrenatural. E, de certo modo, tinha: o sobrenatural da devoção, da paciência e da fé.
A Criação do Codex Gigas: Entre a Lenda e a Realidade
Poucos manuscritos medievais carregam uma origem tão cercada de mistério e temor quanto o Codex Gigas. Desde o final da Idade Média, quando a obra começou a ser conhecida fora dos muros do mosteiro de Podlažice, circularam histórias sobre sua produção sobrenatural. A mais célebre delas — e que lhe deu o apelido de “Livro do Diabo” — narra o drama de um monge condenado ao enclausuramento perpétuo, que teria feito um pacto com o próprio demônio para concluir, em uma única noite, o maior manuscrito do mundo.
A lenda é registrada, em versões distintas, desde o século XV, e foi consolidada no período moderno por cronistas tchecos e suecos que tiveram contato com o códice. A narrativa diz que o monge, condenado por uma grave transgressão (em algumas versões, por quebrar os votos monásticos; em outras, por blasfêmia), deveria ser murado vivo — uma das punições mais temidas entre os beneditinos.Diante da perspectiva da morte e da danação, ele propôs ao abade que, em uma única noite, escreveria um livro que contivesse todo o conhecimento humano e divino, glorificando o mosteiro e reparando seu pecado. O abade, cético, aceitou o desafio, considerando-o impossível.
À meia-noite, segundo a lenda, o monge percebeu que não conseguiria cumprir a promessa. Em desespero, invocou Lúcifer e pediu-lhe ajuda. O demônio atendeu, exigindo em troca sua alma.Quando a aurora nasceu, o livro estava terminado — vasto, perfeito, iluminado — e o monge, exaurido, teria desenhado, como sinal de gratidão (ou submissão), a figura colossal do Diabo em uma das páginas centrais. Assim nascia o Codex Gigas, o “Livro Gigante”, simultaneamente testemunho de penitência e pacto.
O Significado da Lenda
Como toda lenda medieval, essa história não deve ser lida como uma crônica literal, mas como uma narrativa simbólica.O pacto demoníaco é, na realidade, uma metáfora sobre a culpa monástica e a ambiguidade do saber. No imaginário cristão do século XIII, o conhecimento excessivo — sobretudo aquele que ousava unir Escritura, medicina, astrologia e fórmulas mágicas — podia ser visto como uma forma de orgulho espiritual, um “pecado de sabedoria”.O monge do Codex Gigas, ao tentar reunir em um só volume toda a criação divina, teria cometido o mesmo erro de Adão: desejar compreender o todo.
A imagem do demônio, então, torna-se o espelho dessa ambição. Ao colocar o diabo dentro da Bíblia — literalmente entre os livros sagrados — o autor recorda que o mal está sempre à espreita, mesmo nas margens da santidade. O manuscrito é, assim, um tratado visual sobre o perigo do orgulho e a necessidade da penitência.O diabo não é o patrono da obra, mas o seu lembrete: toda sabedoria deve começar pelo temor de Deus.
O historiador francês Jacques Le Goff, em O Nascimento do Purgatório, lembra que o século XIII foi uma era de “transição entre o medo e a razão”. O monge de Podlažice, ao mesmo tempo penitente e erudito, encarna essa fronteira. Ele viveu em um tempo em que o mosteiro era tanto casa de oração quanto laboratório do espírito, onde os limites entre teologia e ciência, fé e curiosidade, estavam em constante tensão.
Evidências Materiais: O Trabalho de um Só Homem
Do ponto de vista histórico, os estudos modernos apontam que o Codex Gigas não foi escrito em uma noite, nem em um ato mágico, mas ao longo de vários anos — talvez décadas — por um único escriba.A análise paleográfica, conduzida por especialistas como Miroslav Krek e Dick Harrison, demonstrou que todas as mais de 300 páginas foram redigidas pela mesma mão, com uma caligrafia regular e estável do início ao fim.A tinta, feita à base de fuligem e substâncias minerais, mantém tonalidade idêntica em todo o manuscrito, o que reforça a hipótese de que o trabalho foi realizado de maneira contínua e disciplinada.
Estima-se que, para copiar todo o texto bíblico, os tratados de Flávio Josefo e de Isidoro de Sevilha, além dos compêndios de medicina e exorcismos, um escriba solitário levaria cerca de 20 a 30 anos de trabalho diário. Esse tempo monumental de dedicação explica o tamanho da obra e também a sua aura mística: poucos seres humanos teriam suportado uma tarefa tão longa e solitária sem sentir-se tocados pelo sobrenatural.
O material também impressiona. O pergaminho do Codex Gigas é feito de vitela — couro de bezerros finamente preparado.Foram necessárias as peles de cerca de 160 animais para confeccionar as folhas do manuscrito, que medem 92 centímetros de altura por 50 de largura, pesando mais de 75 quilos. Sua encadernação original era reforçada por ferragens de bronze e madeira espessa, tornando o volume mais parecido com um relicário do que com um livro.Essa monumentalidade não era apenas estética: simbolizava o peso literal do conhecimento divino e a eternidade da Palavra.
A Ilustração do Diabo: Um Mistério Teológico
No centro do Codex Gigas, entre o Antigo e o Novo Testamento, encontra-se a célebre ilustração do Diabo, uma imagem única em toda a iconografia bíblica medieval. O demônio é retratado de corpo inteiro, sentado entre duas torres, com língua vermelha e garras afiadas, ocupando toda a página. Sua fisionomia — uma mistura de fera e homem — não sugere adoração, mas advertência.A página oposta, significativamente, contém a imagem da Cidade Celestial, simbolizando o contraste entre o inferno e a salvação.Essa justaposição — o Diabo de um lado, o Paraíso do outro — é um verdadeiro memento mori para o leitor: lembra-lhe de que cada escolha humana é uma travessia entre dois destinos.
Os estudiosos de arte, como Kathryn Miller (Manuscripts, Monks, and Magic: The Codex Gigas and the Culture of the Book in Medieval Bohemia), interpretam essa dualidade como uma catequese visual. No contexto monástico, a imagem não tinha função de escândalo, mas de meditação. O monge que escrevia o livro não via o diabo como símbolo de tentação, mas como prova do poder redentor da fé.Era o mal representado para ser vencido.
strutura e Conteúdo do Manuscrito
O Codex Gigas é mais do que um manuscrito: é uma enciclopédia espiritual e intelectual da Idade Média.Sua composição revela o ideal monástico de reunir, em um único volume, tudo o que o homem precisava saber para salvar a alma e compreender o mundo.Dentro de suas 310 folhas de pergaminho — cuidadosamente iluminadas e escritas em latim — encontra-se um microcosmo do pensamento cristão e da erudição do século XIII.
Dimensões e Organização Física
Fisicamente, o Codex Gigas é o maior livro medieval conhecido. Com 92 centímetros de altura, 50 de largura e 22 de espessura, pesa cerca de 75 quilos.Seu tamanho não era mero capricho estético: representava, para o monge que o escreveu, a grandeza da Palavra de Deus e a autoridade do saber sagrado. Ao ser aberto, o manuscrito dominava a mesa do scriptorium, e sua leitura requeria mais de um monge para virá-lo, reforçando seu caráter cerimonial.
O códice foi confeccionado com vitela de altíssima qualidade, um pergaminho obtido a partir da pele de bezerros recém-nascidos.Foram necessárias entre 160 e 180 peles para completar o volume — um número que, por si só, já o torna uma obra monumental de custo incalculável.Cada página possui escrita em duas colunas, com cerca de 100 linhas cada, e margens amplas, permitindo anotações e comentários. A caligrafia é uniforme do início ao fim — sinal inequívoco de que um único escriba foi responsável por todo o trabalho, algo sem paralelo em outros manuscritos de mesma magnitude.
Conteúdo Geral: Uma Biblioteca Dentro de Um Livro
O Codex Gigas não é apenas uma Bíblia — é uma biblioteca completa em um único volume.Seu conteúdo abrange desde o texto sagrado até obras de história, ciência, exorcismo e medicina.Essa combinação inusitada, que vai do espiritual ao prático, reflete o ideal monástico de integrar fé e razão, corpo e alma.
A seguir, uma síntese da estrutura textual do códice:
Bíblia Completa (Vulgata de São Jerônimo)
Inclui o Antigo e o Novo Testamento, além de textos apócrifos como os livros deuterocanônicos (Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Macabeus, etc.).
O texto bíblico ocupa quase dois terços do manuscrito e é tratado com reverência visual: iluminuras, iniciais ornamentadas e rubricadas, todas em vermelho e azul.
História dos Judeus e das Guerras Judaicas – Flávio Josefo
A inclusão dessa obra demonstra o interesse do monge pela história universal.
Josefo, um historiador judeu romanizado do século I, é uma das principais fontes para compreender o contexto histórico da Bíblia.
Sua presença no códice revela uma visão cristã da história como linha contínua de salvação, do Éden à Jerusalém.
Etimologias – Isidoro de Sevilha
O tratado de Isidoro é considerado a primeira grande enciclopédia da cristandade.
Ele organiza todo o conhecimento da Antiguidade (gramática, filosofia, zoologia, medicina, astronomia) sob uma ótica cristã.
Sua inclusão transforma o Codex Gigas em um compêndio do saber total, onde a fé ilumina a razão.
Tratados Médicos e Fisiológicos
O códice contém textos baseados em autores árabes e bizantinos, como Hipócrates, Galeno e Constantino, traduzidos ao latim.
Ensina sobre doenças, sangrias, astrologia médica e propriedades das ervas.
Essa seção mostra o equilíbrio entre o espiritual e o corporal: o monge via a saúde como expressão da harmonia divina.
Crônicas e Textos Históricos Locais
Pequenas notas e crônicas boêmias inseridas ao longo do texto indicam que o manuscrito também servia como registro da memória local.
Há referências ao mosteiro de Podlažice, a monges contemporâneos e a figuras do Sacro Império, como o imperador Frederico II.
Textos Penitenciais e Exorcismos
Incluem orações de confissão, penitência e fórmulas contra espíritos malignos.
Esses trechos alimentaram, em parte, a fama sombria do manuscrito, mas eram comuns em códices monásticos.
Serviam para uso litúrgico e pastoral, refletindo a crença de que o mal espiritual podia ser combatido pela palavra escrita.
Calendário e Necrológio Monástico
Contém um calendário com as festas litúrgicas e uma lista de nomes de monges e benfeitores falecidos, pelos quais se ofereciam missas.
Essa seção demonstra a função memorial do livro — ele era também um monumento espiritual aos mortos do mosteiro.
A Ilustração do Diabo e a Cidade Celestial
O contraste entre a figura do Diabo e a da Cidade Celestial, colocadas em páginas opostas, é o ponto mais impactante da obra.A página do Diabo, de cerca de 50 cm de altura, apresenta uma criatura híbrida, com corpo humanoide e garras animalescas, sentada entre torres vazias — símbolo do isolamento e da desolação infernal.Seu corpo verde, suas garras afiadas e seus olhos fixos não convidam à adoração, mas ao temor.Em contrapartida, a página seguinte retrata a Jerusalém Celeste, com torres douradas e uma luz que inunda o espaço. Essa oposição — o inferno e o paraíso, o medo e a esperança — sintetiza toda a teologia medieval: o universo como campo de batalha moral entre o bem e o mal.
O historiador sueco Dick Harrison, da Universidade de Lund, interpretou esse contraste como um “sermão visual”, uma catequese silenciosa para o leitor medieval.Em um tempo em que muitos monges não compreendiam plenamente o latim bíblico, a imagem falava por si: “Escolha a luz.”Era o Evangelho traduzido em arte.
A Unidade Temática do Codex Gigas
O mais notável no Codex Gigas é sua coerência.Apesar de conter textos de naturezas diversas — Bíblia, história, ciência, magia —, tudo nele converge para uma única mensagem: a busca da ordem divina.Nada no manuscrito é aleatório.Cada parte é uma peça do mosaico da criação.A história humana, a natureza, a doença, o pecado e o arrependimento — tudo é integrado em um mesmo horizonte teológico.O livro não é apenas uma compilação, mas uma cosmologia visual e textual, um espelho da Idade Média em sua plenitude espiritual.
A Passagem do Codex Gigas pelos Séculos
Poucos manuscritos medievais tiveram uma trajetória tão longa, acidentada e envolta em lendas quanto o Codex Gigas.Nascido no silêncio de um mosteiro boêmio, ele atravessou séculos de guerras, incêndios, invasões e transformações políticas — sobrevivendo a tudo como se carregasse uma força própria, um destino quase sobrenatural. Sua jornada é, ao mesmo tempo, a história do livro e a história da própria Europa em transição da Idade Média à modernidade.
O Mosteiro de Podlažice e o Nascimento do Manuscrito
O Codex Gigas foi produzido, segundo a maioria dos estudiosos, no mosteiro beneditino de Podlažice, fundado por volta de 1200, próximo à atual cidade de Chrudim, na Boêmia Oriental (hoje República Tcheca).Trata-se de um mosteiro modesto, sem grandes riquezas, o que torna ainda mais surpreendente a confecção de um códice tão monumental. As fontes sugerem que a obra foi financiada por doações externas — possivelmente de nobres locais ou prelados que viam no manuscrito um símbolo de prestígio e devoção. No entanto, o tamanho e o custo do Codex Gigas podem ter levado à ruína o próprio mosteiro: por volta do século XV, Podlažice foi dissolvido, e seus bens transferidos a outras instituições religiosas.
O manuscrito, entretanto, sobreviveu.Por seu valor espiritual e material, foi transferido para o mosteiro cisterciense de Sedlec e, posteriormente, para o mosteiro premonstratense de Broumov, ambos também na Boêmia.Ali, permaneceu por séculos sob guarda eclesiástica, ganhando fama local como um objeto quase milagroso.Acreditava-se que quem o lesse com fé poderia ser protegido do mal — mas também que o manuscrito não podia ser movido sem que algo trágico acontecesse.
Do Claustro à Corte: A Era dos Habsburgo
Durante o período de domínio dos Habsburgo na Boêmia, o Codex Gigas passou a despertar interesse fora dos muros monásticos. A Reforma protestante, iniciada no século XVI, provocou intensa disputa entre católicos e luteranos, e a posse de relíquias e manuscritos antigos tornou-se questão de poder simbólico. Por volta de 1594, o códice foi requisitado pela Biblioteca Imperial de Rodolfo II, em Praga.Rodolfo II, imperador do Sacro Império Romano-Germânico (1576–1612), era conhecido por seu fascínio pelo oculto, pela alquimia e pelas ciências herméticas. Na sua corte, onde transitavam magos, astrônomos e filósofos, o Codex Gigas encontrou um ambiente ideal para alimentar novas lendas.Ali, o “Livro do Diabo” deixou de ser apenas um manuscrito religioso para se tornar também objeto de curiosidade esotérica.
O historiador Georges Minois observa que, nesse contexto, “o diabo deixa de ser apenas o adversário de Deus para se tornar, também, símbolo do saber proibido”. O manuscrito, com sua iconografia demoníaca e seus textos sobre exorcismos e medicina, parecia condensar esse novo espírito de inquietação intelectual que antecedia a modernidade.Contudo, o destino do Codex Gigas mudaria novamente com a guerra que devastaria toda a Europa Central.
A Guerra dos Trinta Anos e o Saque de Praga (1648)
Em 1648, o último ano da Guerra dos Trinta Anos — um dos conflitos mais destrutivos da história europeia — marcou o início da jornada do Codex Gigas fora da Boêmia.Durante o saque de Praga, as tropas suecas, sob comando da rainha Cristina da Suécia, invadiram o Castelo de Hradčany e confiscaram parte da biblioteca imperial de Rodolfo II. Entre os tesouros levados estava o Codex Gigas.A rainha Cristina, conhecida por sua educação humanista e pelo interesse por arte e filosofia, incorporou o manuscrito à sua coleção particular.Após sua abdicação e exílio em Roma, a coleção passou à Biblioteca Nacional da Suécia (Kungliga Biblioteket), onde o manuscrito permanece até hoje.
Esse episódio é emblemático da nova era: o conhecimento medieval, outrora guardado por monges, tornava-se agora propriedade das cortes e dos estados modernos, sinalizando a passagem do saber do domínio do claustro para o domínio do poder político.
O Incêndio de 1697: O Livro que Não Queimou
Um dos momentos mais dramáticos da história do Codex Gigas ocorreu em 1697, quando um incêndio devastou o castelo de Estocolmo, sede da biblioteca real. As chamas consumiram parte inestimável do acervo, mas, de maneira quase milagrosa, o Codex Gigas foi salvo das chamas.Segundo relatos da época, o livro foi arremessado pela janela por um bibliotecário que, desesperado, tentou salvá-lo.O volume caiu sobre o chão gelado do pátio e sobreviveu com apenas leves danos nas capas.Esse episódio reforçou sua reputação de obra invulnerável, “protegida por forças que nem o fogo ousava tocar”.
Séculos XVIII–XX: Do Mito ao Objeto Científico
Nos séculos seguintes, o manuscrito passou a ser estudado não apenas como relíquia sagrada, mas também como objeto de ciência histórica.Filólogos, teólogos e paleógrafos começaram a decifrar sua estrutura e origem. Em 1819, o estudioso tcheco Josef Dobrovský foi o primeiro a identificar com precisão o latim medieval boêmio da escrita. No século XIX, com o florescimento da historiografia crítica, o Codex Gigas passou a ser interpretado como testemunho da cultura monástica europeia, e não como produto demoníaco.Ainda assim, a iconografia do diabo continuou a inspirar curiosidade, especialmente entre artistas e ocultistas do romantismo.
Durante o século XX, o manuscrito foi digitalizado e estudado por instituições como a Biblioteca Nacional da Suécia e a Universidade Carolina de Praga. Análises químicas confirmaram a antiguidade das tintas e a autenticidade dos materiais, desmentindo hipóteses fantasiosas. Mesmo assim, o Codex Gigas manteve seu estatuto de “livro proibido”, um relicário do imaginário medieval que fascina tanto o público quanto os estudiosos.
A Dimensão Teológica e Simbólica do Codex Gigas
O Codex Gigas é, acima de tudo, uma obra de fé e ambiguidade, onde o sagrado e o profano coexistem em um mesmo corpo material.Nele, a teologia, a penitência e o saber humano são tecidos em uma tapeçaria que reflete as tensões espirituais da Idade Média — entre o medo e a razão, entre a salvação e a curiosidade, entre o céu e o inferno. Compreender o Codex Gigas não é apenas estudar um manuscrito: é adentrar a mente de um monge medieval que acreditava que cada palavra escrita era um ato de redenção.
Um Livro de Expiação
A hipótese mais aceita entre os historiadores — apoiada por nomes como Paul Lehmann, František Dvorník e Jacques Le Goff — é a de que o manuscrito foi concebido como ato de penitência.O monge autor, cujo nome permanece desconhecido, teria se imposto (ou recebido como castigo) a tarefa colossal de copiar toda a Escritura e os principais textos da tradição cristã como forma de purificação espiritual.Essa ideia ecoa uma crença profundamente medieval: a de que o trabalho manual e intelectual eram caminhos para a salvação.
Copiar as Escrituras era, no mundo monástico, um ritual penitencial.Cada letra traçada era uma oração silenciosa; cada página concluída, uma vitória sobre o pecado. Assim, o Codex Gigas não seria o fruto de um pacto com o diabo, mas um exorcismo da alma — o esforço de um homem que buscava apagar sua culpa pela força da escrita.
A lenda demoníaca, portanto, reflete uma inversão simbólica: o monge que luta contra a condenação é visto, pela posteridade, como alguém que se aliou ao mal. É o mesmo paradoxo que atravessa tantas histórias medievais — a santidade e a heresia frequentemente se confundiam, e a linha que separava o místico do perigoso era tênue.
O Diabo como Memento da Queda
A figura do diabo no centro do manuscrito é, talvez, o símbolo mais enigmático da teologia medieval.Longe de ser um retrato de adoração ou curiosidade diabólica, trata-se de um memento mori, um lembrete visual da fragilidade humana diante da tentação.
O diabo aparece isolado, entronizado entre duas torres vazias, em uma paisagem árida.Sua cor verde-acinzentada, a língua vermelha e os olhos fixos sugerem não poder, mas corrupção e decadência. À sua frente, na página oposta, brilha a imagem da Jerusalém Celeste, símbolo da redenção e da ordem divina.Essa justaposição é o coração teológico do Codex Gigas: o ser humano está suspenso entre dois extremos — o pecado e a graça.
O teólogo inglês Richard Southern, em The Making of the Middle Ages, descreve esse tipo de dualidade como característica do pensamento cristão do século XIII:
“A mente medieval vivia entre o temor do inferno e o desejo do paraíso; o monge era o equilibrista da alma.”
O monge que produziu o Codex Gigas, portanto, expressa essa luta visualmente. Ao desenhar o diabo dentro de um livro sagrado, ele não profanou a Palavra — ele a fortaleceu, inserindo nela a lembrança constante do perigo da queda.
O Saber e a Tentação: a Ambiguidade do Conhecimento
O Codex Gigas é também uma reflexão sobre o limite entre o saber permitido e o proibido.A presença, lado a lado, de tratados médicos, crônicas históricas e textos de exorcismo ilustra o ideal do homo universalis medieval — o homem que busca compreender a totalidade da criação.Mas esse ideal trazia um risco espiritual: o orgulho intelectual, a soberba do saber.
A tradição monástica ensinava que a curiosidade excessiva (curiositas) podia conduzir à perdição.Santo Agostinho, em Confissões, adverte: “Há uma ciência que incha, e há uma ciência que edifica. ”O monge que reuniu tudo no Codex Gigas parece ter caminhado sobre essa linha tênue — entre a edificação e a tentação.
Ao incluir no mesmo volume o Livro do Gênesis e as receitas para curar febres, a história de Israel e as fórmulas para expulsar demônios, o escriba uniu mundos que raramente se encontravam. O resultado é um espelho do próprio universo medieval: um cosmos onde tudo tem significado teológico, mesmo o corpo e a doença.
O historiador Jean-Claude Schmitt, em Le Corps des Images, interpreta o manuscrito como expressão visual da teologia agostiniana da ordem:
“Nada é profano, se puder ser ordenado a Deus.”
Assim, o Codex Gigas é o testemunho supremo da fé monástica na harmonia do todo. O diabo, os remédios, os reis, os anjos — todos coexistem sob a luz da mesma lógica divina.
O Livro como Corpo do Conhecimento
Há, ainda, um simbolismo físico profundo na própria materialidade do códice.Seu tamanho colossal — um corpo de mais de 75 quilos — faz dele uma metáfora tangível do peso do saber e da penitência. Na espiritualidade beneditina, o corpo e o espírito eram inseparáveis; o esforço físico de copiar centenas de páginas era uma forma de oração corporal. A dor nas costas, o cansaço dos olhos, o silêncio do claustro — tudo fazia parte da liturgia do trabalho.
Por isso, o Codex Gigas não é apenas uma compilação de textos: é um ato devocional esculpido em tinta e pergaminho. Cada linha é fruto de disciplina, arrependimento e perseverança.Seu tamanho não é apenas monumento à erudição, mas à humildade — a lembrança de que o homem, para alcançar o divino, deve curvar-se sob o peso da própria criação.
O Legado do Codex Gigas: Entre o Mito e a História
O Codex Gigas é uma das raras criações medievais que sobreviveu não apenas como objeto histórico, mas como símbolo cultural de alcance universal.Nascido em um mosteiro obscuro do século XIII, ele ultrapassou as fronteiras do tempo e da geografia, despertando fascínio em teólogos, historiadores, artistas e até cineastas contemporâneos.A sua trajetória — entre o divino e o demoníaco — reflete a ambiguidade do próprio espírito medieval: uma civilização que, ao mesmo tempo em que temia o inferno, aspirava à transcendência do saber e à glória do eterno.
Do Temor ao Fascínio: a Reinterpretação Moderna
Durante séculos, o Codex Gigas foi visto como objeto de superstição.Seu apelido de “Livro do Diabo” o relegou ao campo das lendas, afastando-o do estudo acadêmico. No entanto, a partir do século XIX, com o avanço da crítica histórica e o nascimento da paleografia moderna, o manuscrito passou a ser reavaliado à luz da razão.Pesquisadores como Josef Dobrovský, Paul Lehmann e Gustav Holmberg desvendaram sua estrutura e identificaram seu contexto monástico boêmio.
No século XX, o interesse renasceu, mas agora sob outro viés: o fascínio cultural pelo oculto e pelo mistério.Em plena era científica, o Codex Gigas passou a ser visto como metáfora das fronteiras entre fé e conhecimento. O teólogo e medievalista Jacques Le Goff, em O Nascimento do Purgatório, sugere que o livro encarna “a tensão medieval entre o visível e o invisível, entre o medo do diabo e a confiança na ordem divina”. O diabo do Codex Gigas tornou-se, assim, um espelho das angústias modernas: a busca pelo saber absoluto, a culpa pelo excesso de conhecimento e a eterna tentativa humana de conciliar luz e trevas.
O Codex Gigas na Literatura e nas Artes
A força simbólica do manuscrito inspirou artistas e escritores ao longo dos séculos.A partir do romantismo, quando o imaginário medieval foi redescoberto como fonte estética, o Codex Gigas ressurgiu como emblema da alma atormentada do gênio humano.Pintores, gravuristas e escritores viram no monge penitente uma alegoria do criador moderno — aquele que desafia os limites da fé e da razão.
No século XX, o tema encontrou ecos em obras como “O Nome da Rosa”, de Umberto Eco (1980), onde o conhecimento proibido e o poder dos livros se tornam instrumentos de morte e revelação.Ainda que Eco não mencione explicitamente o Codex Gigas, a atmosfera do romance — a biblioteca labiríntica, o monge copista, o veneno da curiosidade — dialoga diretamente com seu espírito.Mais recentemente, o manuscrito serviu de inspiração para filmes e séries de temática esotérica, sendo reinterpretado como símbolo da busca humana pelo absoluto, seja ele divino ou demoníaco.
Em exposições contemporâneas, como a organizada pela Biblioteca Nacional da Suécia em 2007 (“The Devil’s Bible: The World’s Largest Medieval Manuscript”), o público foi convidado a enxergar o Codex Gigas não como um artefato sombrio, mas como testemunho da grandeza intelectual e espiritual da Idade Média.A mostra combinou filologia, história da arte e teologia, resgatando o monge anônimo não como pecador, mas como criador — um símbolo da disciplina e do mistério da mente medieval.
Entre a História e o Mito
O Codex Gigas ocupa uma posição singular: ele é simultaneamente documento histórico e mito vivo.Como documento, é um testemunho inestimável da cultura monástica e do ideal de totalidade do conhecimento. Como mito, ele representa o temor e a fascinação do homem diante de sua própria criação.
O mito do monge que vendeu sua alma para terminar o manuscrito em uma noite é, em última instância, uma parábola sobre a condição humana: o desejo de superar os próprios limites, mesmo à beira da condenação.Essa lenda ecoa os arquétipos do Fausto e de Prometeu — figuras que simbolizam a ousadia e o preço do saber. Em ambos os casos, o castigo é o mesmo: quanto mais o homem se aproxima do divino, mais dolorosa é sua queda.
O historiador Jean Delumeau, em O Medo no Ocidente, observa que o diabo medieval não é apenas o inimigo do homem, mas também seu espelho.O Codex Gigas materializa essa visão: nele, o mal não é força exterior, mas parte do drama interior do ser humano. O diabo é o guardião da fronteira entre o conhecimento e o pecado — um lembrete constante de que o saber sem humildade pode levar à perdição.
O Codex Gigas Hoje: Entre o Erudito e o Popular
No século XXI, o Codex Gigas tornou-se um ícone cultural acessível a todos.Desde sua digitalização completa pela Biblioteca Nacional da Suécia, disponível online desde 2007, milhões de pessoas podem “folheá-lo” virtualmente, página por página.Esse gesto tecnológico — o de tornar público o livro que por séculos foi cercado de mistério — representa uma vitória do saber sobre o medo. O monge que o escreveu jamais imaginaria que, oito séculos depois, sua obra seria lida em telas luminosas por leitores de todo o mundo.
Ao mesmo tempo, sua presença em exposições, documentários e produções cinematográficas continua a alimentar o imaginário coletivo.O Codex Gigas permanece, assim, em um limiar paradoxal: objeto de estudo científico e relíquia mística.Para o historiador moderno, ele é um monumento da escrita medieval; para o público, um eco de um passado onde o medo, a fé e o saber se entrelaçavam como partes inseparáveis da existência.
Epílogo: O Livro que Contém o Mundo
No fim, o Codex Gigas simboliza o sonho medieval de totalidade — o desejo de conter o universo entre duas capas.Seu autor, ao compilar a Bíblia, a história, a medicina e a cosmologia, buscou unir em um só volume o corpo e o espírito, o visível e o invisível.E, ao fazê-lo, legou ao futuro um espelho da própria alma humana: imperfeita, curiosa, penitente, mas eternamente em busca da luz.
Nas palavras do historiador Umberto Eco, que talvez melhor compreendeu esse paradoxo:
“O livro é um corpo vivo. Ele respira, pensa e contém o tempo. No Codex Gigas, o homem medieval quis aprisionar o infinito — e, de algum modo, conseguiu.”
O Codex Gigas, portanto, não é apenas o “Livro do Diabo”.É o Livro da Humanidade — o testemunho do medo e da fé, da culpa e da esperança, do esforço incessante de compreender o mistério da criação.Em seu silêncio de pergaminho, ele continua a nos olhar — lembrando-nos de que toda busca pelo conhecimento é, ao mesmo tempo, uma busca por redenção.
Fontes
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DELANEY, John. The Devil’s Bible: The Mysterious Codex Gigas. Stockholm: Kungliga Biblioteket, 2007.
DELUMEAU, Jean. O Medo no Ocidente: uma cidade sitiada (séculos XIV–XVIII). Tradução de Maria Lúcia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
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ECO, Umberto. A Estrutura Ausente: Introdução à Semiótica. São Paulo: Perspectiva, 2011.
HARRISON, Dick. The Devil’s Bible: The World’s Largest Medieval Manuscript. Stockholm: Swedish National Library, 2007.
LE GOFF, Jacques. O Nascimento do Purgatório. Tradução de Maria José G. de Moraes. Lisboa: Estampa, 1984.
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