BREVES NOÇÕES SOBRE A CAVALARIA MEDIEVAL: COMENTÁRIOS SOBRE A CAVALARIA MEDIEVAL
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BREVES NOÇÕES SOBRE A CAVALARIA MEDIEVAL: COMENTÁRIOS SOBRE A CAVALARIA MEDIEVAL



A Cavalaria na história é uma das unidades militares de combate que se bem utilizadas possuem maior grau destrutivo na unidade adversária, afinal a vista de um contingente de cavaleiros montados é amedrontadora!


Para estabelecer um parâmetro de como a figura do “Dominus” (termo em latim designado para exemplificar a figura de um cavaleiro de alto prestígio e senhor de terras na Europa do século XI-XII-XIII) se deu, é necessário fazer um breve recorte sobre a cavalaria no mundo antigo para que se possa comparar com a do século XI, XII e XIII.


Ao remontarmos aos gregos enquanto famílias oligárquicas que detinham poder local e senhorial muito antes da sua organização social, econômica e política nas Pólis, a aristocracia da Ática, Peloponeso e Beócia guerreava montada em cavalos, podemos observar a mesma tendência comportamental na elite senhorial das tribos célticas da Gália, Britânia, as tribos germânicas, povos da Península Ibérica e Itálica enquanto etrusca.


O ato de guerrear em cima de um animal como o cavalo, dotado de força, robusteza e imponência sempre foi considerado uma grande demonstração de perícia militar, atributo de respeito, status e influência em determinados momentos da história, até o ato de possuir cavalos, capital e recursos para tratar, domar e cuidar destes elitizaram a cultura do guerreiro montado em diversas óticas.



Guerreiro gálico (celta) montado a cavalo


Já no Império Romano por conta de sua dinamização militar e variadas patentes, a figura do cavaleiro aristocrata assumiu outra postura de forma que sua influência iria até a Alta Idade Média. No Império havia uma patente e ordem chamada de “Equestres” que consistiam em uma das duas mais baixas patentes (ou ordens) militares do Império Romano e que comportavam a entrada mais fácil e plausível para a baixa aristocracia, ou seja, a entrada na vida política romana em uma escala menor. Tais notáveis militares seriam recompensados com esta ordem pelos seus distintos serviços prestado a legião na qual combatiam e serviam, é curioso notar que o mesmo princípio se aplicará na alta Idade Média, a cavalaria medieval era a porta de entrada para a baixa aristocracia, muitos burgueses salvaram famílias nobres a beira da falência com casamentos e o recebimento de um título de cavaleiro, tais atos eram feitos a contragosto pela necessidade de casar um homem de sangue não aristocrático com uma dama aristocrática.


Ao chegarmos na Alta Idade Média, é de se levar em conta a fragmentação das províncias imperiais na Europa e suas formas de organizações sociais. Segundo alguns autores como Georges Duby afirmam em seu livro “A Sociedade Cavalheiresca”, o mito criador da aristocracia guerreira e montada na Idade Média se dá como uma herança ancestral do senhorio guerreiro germânico ou da Ordem Equestre Romana.


Como herança do Império Romano e do antigo senhorio guerreiro local, é possível analisar e observar a aristocracia na Inglaterra Anglo Saxônica guerreando montada em cima de cavalos e liderando tropas para o campo de batalha, o costume se mantém no Império Carolíngio e nos Reinos Francos, mas como nas províncias Gálicas a ordem imperial havia se restaurado por conta do estabelecimento do Império Carolíngio, foi possível administrar efetivas unidades de combate montadas.



Acima, a cavalaria carolíngia ataca saqueadores nórdicos no século IX

É necessário observar e analisar que em sua grande maioria eram os guerreiros montados da Europa Senhorial a própria aristocracia, pois podiam arcar com os custos de fazer uso dos melhores equipamentos como armaduras de malha de aço, elmos, boas espadas e cavalos.



Ele guerreia montado em cavalo, distingue-se por nobreza além dos critérios já citados o distintivo uso de uma capa vermelha, cor de grande estirpe entre o senhorio europeu. A cavalaria da Alta Idade Média era composta pela alta aristocracia e era considerada um estamento militar apenas para o senhorio.
Acima, mais um nobre carolíngio

A Figura do Cavaleiro na Baixa Idade Média


O Cavaleiro na Baixa Idade Média assume uma postura que revoluciona sua figura e a atribui um fator cultural, ou seja, ser um cavaleiro não era apenas uma condição da nobreza, mas agora se começaria a atribuir um fator cultural como uma ramificação da própria nobreza no primeiro momento e depois de integração, ou seja, uma classe inerente aos títulos nobiliárquicos, de forma que a partir do século XI documentos citam nobres com um título de cavaleiro que poderia aparecer como ( Miles ou Dominus ) e os que o complementam ao seu grau de influência e poder.


Em meados do século X E XI, nas províncias da Aquitânia e Borgonha o movimento cônego da Paz de Deus buscava a restauração de um ordenamento social que foi rompido pelas guerras e pequenos conflitos senhoriais, que foram ocasionados pela fragmentação do Sacro Império Romano Germânico de Carlos Magno, tal movimento buscava preservar as propriedades da igreja que estavam sendo saqueadas e criar um código de conduta para a nobreza que reduzisse as escalas dos conflitos senhoriais.


Para que se compreenda a gravidade ocasionada pela quebra da unidade imperial carolíngia, os bispos das províncias da Gália tentaram manter a paz e limitar a violência causada pela quebra da ordem pública, este movimento ficou conhecido como a Paz de Deus e a trégua de Deus. O enfraquecimento dos poderes centrais e a perda de influência do rei francês intensificou os graus do contrato feudo-vassalico, o rei não era mais o garantidor pleno da paz, a servidão se intensificou nos ducados e condados justamente por criarem escalas de poder monárquico em condição menor, estes juravam a sua fidelidade não a um rei, mas sim ao seu senhor provincial ou regional mais influente.


A Paz de Deus no século XI consistiu em uma série de encontros e reuniões em que o clero e a aristocracia local visavam reduzir os impactos das guerras senhoriais, juravam a não agressão a camponeses e mercadores, mas também as próprias terras da Igreja, os juramentos que eram feitos sobre a presença de estátuas de santos consistiam em não combater em feriados e datas religiosas, e um dos meios mais eficazes de cumprimento sendo o anátema e a excomunhão do ou dos referidos senhores em caso de violação das normas. A igreja católica, única instituição de poder que saiu mais forte da fragmentação imperial carolíngia, foi responsável por reordenar completamente a aristocracia senhorial francesa em um novo ordenamento social e político, o impacto e força deste movimento potencializaria a primeira cruzada no futuro.


O baixo senhorio tornou-se guardião das terras do seu suserano e assumiu funções militares de defesa, torna-se notável que a baixa nobreza guerreira sempre existiu e foi potencializada pela fragmentação da unidade imperial, que por sua vez potencializou as escalas de servidão a partir do ano mil materializando consideravelmente um número de senhores, castelos e fortificações na França. Estes senhores assumiram funções sumariamente defensivas e começaram a erguer em volta de suas moradas fossos, torres, estacas e se tornaram senhorios locais que poderiam ou não habitar o castelo de seus suseranos. Esta nova cavalaria possuía um novo código de conduta que até determinado momento de sua vida, consistia em este vir a ser como era chamado, um “Juventus”, um jovem propriamente dito, a aristocracia senhorial francesa no século XII determinava que até que o “Juventus” filho do senhor das terras em questão estivesse com um casamento arranjado e prontos para assumi-las, este deveria peregrinar pelas terras em busca de feitos, vitórias nas justas, combates e busca por donzelas com valiosos dotes de terra e beleza. Muitos desses grupos de “Juventus”, foram rumo a primeira cruzada para a tentativa de fortuna em escala maior, guiados pela fé e influência da igreja ou para fugir das disputas e conflitos internos de suas terras. A influência destes grupos foi tamanha, que já no século XII foi fundada a Ordem dos Cavaleiros Templários por um grupo de cavaleiros que foram a terra Santa durante a Primeira Cruzada.


Entretanto esta nova Cavalaria se tornou cada vez mais cara com o chegar do século XII para o baixo senhorio Europeu. Tal fator se dava pelo custo da cerimônia de formação do cavaleiro, as armas, armadura e o próprio festejo, tal efeito potencializou o fator da vassalagem e prestação de serviços militares pelo baixo senhorio a seus suseranos que os armavam e juravam cavaleiros em seus nomes, justamente por não terem finanças para arcarem com o devido custo da cerimônia e de todo o equipamento, de forma que o senhorio europeu possuía verdadeiros exércitos de cavalaria a sua disposição que o serviam em troca de juras vassalicas, salário, títulos ou saques de campanhas militares, assim, criou-se até a figura do “donzel”, o escudeiro que servia o cavaleiro enquanto seu treinamento não estava completo e não chegava o momento de se armar ou ser armado como cavaleiro, e então ter suas armas ungidas e as suas tão gloriosas esporas postas.


A figura do cavaleiro no século XII chegou a protocolar os primeiros contos ou literatura de cavalaria muito difundida entre as cortes, contavam sobre grupos de cavaleiros errantes que buscavam feitos, donzelas, honras e glórias, a partir disto pode-se notar o impacto que esta figura teve para a composição da Idade Média. Muito tem-se a discutir e pesquisar sobre a cavalaria medieval em todos os seus séculos e reinos com suas particularidades, especificidades e características regionais, e com certeza outro escrito será reservado para uma abordagem destes homens que marcaram a história.



Acima, cavaleiros normandos dão uma carga de lança e guerreiam contra anglo saxões na batalha de Hastings.
 

Fonte - Georges Duby: A Sociedade Cavalheiresca, História Medieval por Marcelo Cândido da Silva.

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