SEXTA CRUZADA
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SEXTA CRUZADA


Uma ilustração manuscrita do século XIV dC representando Frederico II , Sacro Imperador Romano (r. 1220-1250 dC) e o sultão do Egito e da Síria al-Kamil (r. 1218-1238 dC) que negociou a entrega de Jerusalém ao domínio cristão durante a Sexta Cruzada (1227-1229 EC). (Bibliotecas do Vaticano, Roma )
Uma ilustração manuscrita do século XIV dC representando Frederico II , Sacro Imperador Romano (r. 1220-1250 dC) e o sultão do Egito e da Síria al-Kamil (r. 1218-1238 dC) que negociou a entrega de Jerusalém ao domínio cristão durante a Sexta Cruzada (1227-1229 dC). (Bibliotecas do Vaticano, Roma )

A Sexta Cruzada (1228-1229) considerada por muitos historiadores como nada mais, nada menos, que o atrasado capítulo final da fracassada Quinta Cruzada (1217-1221), finalmente presenciou o Sacro Imperador Romano, Frederico II (rein. 1220-1250) chegar à Terra Santa à frente de seu exército, como há tempos havia prometido. Jerusalém encontrava-se fora de mãos cristãs desde 1187, mas finalmente saiu do controle muçulmano graças às habilidades diplomáticas de Frederico, ao invés do combate. Em fevereiro de 1229 chegaram a um acordo, al-Kamil, Sultão do Egito e Síria (sult. 1218-1238), e o Imperador, para entregar a Cidade Santa às mãos cristãs. Enfim, a Sexta Cruzada cuidou de conseguir por meios pacíficos o que quatro sangrentas Cruzadas anteriores falharam em realizar.


Prólogo: A Quinta Cruzada


A Quinta Cruzada foi convocada pelo Papa Inocêncio III (pont*. 1198-1216) em 1215. Retomar Jerusalém para a cristandade era novamente o objetivo, mas o método, desta vez, foi mudado para atacar o que era visto como o ponto fraco da dinastia aiubida (1174-1250), o Egito, ao invés da Cidade Santa diretamente. O exército cruzado, embora conquistando Damietta, no Nilo, em novembro de 1219, foi atingido por disputas na liderança e pela falta de homens, equipamentos e navios adequados para a geografia local. Consequentemente, os ocidentais foram derrotados pelo exército liderado por al-Kamil, o sultão do Egito e Síria, às margens do Nilo em agosto de 1221. Os cruzados, forçados a abandonara Damietta, voltaram para casa, novamente com pouca coisa para mostrar por seus esforços. Ocorreram, posteriormente, amargas recriminações, especialmente contra Frederico II Hohenstauffen, Rei da Alemanha e da Sicília, por não ter comparecido quando seu exército bem poderia ter alterado o equilíbrio a favor dos cruzados. Uma consequência da Quinta Cruzada foi que a decisão do ocidente em atacar o Egito mostrou aos aiubidas sua própria vulnerabilidade no sul do Mediterrâneo.


Frederico II


Embora Frederico II nada tenha feito para a Quinta Cruzada, exceto ofuscá-la por sua ausência, finalmente tornou-se uma das grandes figuras da Idade Média, como o historiador T. Asbridge sintetiza aqui, pitorescamente:


No seculo XIII, ele foi enaltecido por apoiadores como stupor mundi (a maravilha do mundo), mas condenado por seus inimigos como a "besta do apocalipse e, atualmente, os historiadores continuam a debater se ele foi um déspota tirânico ou gênio visionário, o primeiro profissional da monarquia renascentista. Barrigudo, calvo, péssima visão, Frederico fisicamente não era nada atraente. Mas por volta dos anos 1220, ele era o mais poderoso governante do mundo cristão.(563)

À época da Sexta Cruzada, Frederico encontrava-se ainda negociando seus primeiros passos de seu rochoso caminho em sua longa rota para a grandeza. Frederico não abandonou a Europa durante a Quinta Cruzada, apesar de sua promessa para acompanhá-la, porque se encontrava em uma luta pelo poder com o Papado, por seu direito em ser coroado Sacro Imperador Romano. Primeiro, o Papa Inocêncio III, em seguida seu sucessor, Honório III (pont. 1216-1227), preocupavam-se com a possibilidade de Frederico controlar a Europa Central e a Sicília, cercando efetivamente os Estado Papais na Itália. Honório pressionou Frederico para que cumprisse a promessa de tomar Jerusalém de volta para a cristandade. A interrupção mostrou-se vantajosa para o Papado e deu-lhe um tempo para refazer o fôlego na Itália.


Finalmente Frederico foi feito Sacro Imperador Romano em 1220 e conquistou uma conexão pessoal para com o Oriente Médio quando, em novembro de 1225, ele se casou com a herdeira ao trono do Reino de Jerusalém. O Imperador viajaria, afinal de contas, para o Levante e assumiria o Reino de Jerusalém, o trono e tudo o mais, para si mesmo. Reunindo um grande exército cruzado, a partida de Frederico, há tempos programada para 15 de agosto de 1227, foi atrasada uma vez mais, dessa vez por doença (possivelmente cólera). O novo Papa, Gregório IX (pont. 1227-1241) perdeu a paciência excomungou o rei cruzado hesitante em setembro de 1227, pois o Papado, anteriormente, havia prometido a excomunhão se os compromissos prometidos não fossem honrados. Não foi um bom começo para a Cruzada. Mesmo assim, os líderes da Cruzada, que já se encontravam no Oriente Médio, usaram a oportunidade do atraso para recuperar seus homens e continuar com alguns trabalhos nos edifícios, refortificando as posições de defesa principais como Jaffa, Caesarea e mesmo apontando um novo castelo como quartel-general para os Cavaleiros Teutônicos em Montfort.


Frederico no Levante


Apesar de seus problemas com a Igreja, Frederico II comportou-se destemidamente e chegou no Acre, no Oriente Médio, em 7 de setembro de 1228, determinado a fazer o que muitos nobres antes dele fracassaram: tomar Jerusalém. Certamente ele possuía os homens mais treinados e equipados do que qualquer exército cruzado anterior, quase todos combatentes profissionais pagos e somando 10.000 homens de infantaria e, talvez, 2.000 cavaleiros. Permanecia a inconveniência da excomunhão de Frederico, que tinha como resultado prático alguns líderes das devotas ordens militares no Levante, especialmente entre os Cavaleiros Templários e Cavaleiros Hospitalários, sentirem que não podiam servir a uma pessoa que se encontrava fora da Igreja. O Imperador contornou este problema indicando um comandante separado, e (teoricamente) independente, para os cavaleiros acompanharem.


Os planos do Imperador sofreram um duro golpe com a trágica morte de Isabella durante o parto em 1228. Frederico decidiu reinar como regente em nome de seu filho recém-nascido, substituindo seu avô, Jean de Brienne, que havia sido regente para sua filha Isabella antes de seu casamento com o Imperador. Jean, que liderou o exército da fracassada Quinta Cruzada, não ficou nada satisfeito em ser ejetado do poder e jurou vingança. Frederico não ficou sem oposição no Reino de Jerusalém, onde muitos nobres resistiam a quaisquer mudanças no status quo político. Os planos de Frederico para redistribuir certas terras hereditárias e seu patrocínio da ordem militar dos Cavaleiros Teutônicos, foram situações espinhosas para ele.


Jerusalém: Uma Paz Negociada


Frederico e seu exército rumaram do Acre para Jaffa no início de 1229, para demonstrar a ameaça que tal força havia prometido fazer desde a Quinta Cruzada. Ao mesmo tempo, al-Kamil enfrentava uma perigosa coalizão de rivais dentro da dinastia aiubida. Nos últimos dois anos, o próprio irmão do Sultão, al-Mu’azzam, emir de Damasco, havia reunido forças com violentos mercenários turcos, os khwarizmians, para ameaçar o território de al-Kamil no norte do Iraq. Al-Mu’azzam morreu de disenteria em 1227, porém a ameaça de seus adeptos, especialmente às ambições de al-Kamil em Damasco, agora comandada por um sobrinho rebelde de al-Kamil, al-Nasir Dawud, permanecia. Consequentemente, os dois líderes deram início a negociações para evitar uma guerra que traria sérios prejuízos nos interesses comerciais na região para ambos os lados.


Frederico, foi sem dúvida, auxiliado nos seus esforços diplomáticos por seu conhecimento de árabe e uma simpatia geral para com a cultura. Bom notar que o Imperador possuía seu próprio corpo pessoal de guarda-costas muçulmanos e um harém – produtos de seu tempo na Sicília com sua significativa população árabe. Al-Kamil, por outro lado, já havia oferecido Jerusalém como moeda de troca durante negociações com a Quinta Cruzada e. se necessário, poderia sempre retomar Jerusalém, uma vez este exército cruzado partisse de volta à Europa. Parece que ambos os líderes se encontravam ansiosos em salvaguardar seus próprios impérios e seus muito mais importantes bens em outros lugares do que entrarem em uma disputa por Jerusalém. Ao mesmo tempo, quaisquer ganhos poderiam ser maximizados e as concessões minimizadas quando apresentado o acordo para os adeptos de cada líder.


Em 18 de fevereiro de 1229, foi assinado o Tratado de Jaffa entre os dois líderes, o que permitiu aos cristãos reocuparem os lugares santos de Jerusalém, exceto o Templo, área que permaneceu sob controle de autoridades religiosas muçulmanas. Muçulmanos residentes deveriam deixar a cidade, mas poderiam visitar os locais sagrados em peregrinação. Sob os detalhados termos do acordo, nenhuma construção nova ou mesmo adições artísticas seriam permitidas nestes locais santos. Nem mesmo nenhuma fortificação poderia ser construída (embora fosse mais tarde discutido que isso se aplicava a Jerusalém). Incluídos no acordo, estavam outros locais importantes de grande significado para os cristãos, como Belém e Nazaré. O Sultão, em troca dessas concessões, deu uma garantia de trégua por 10 anos e a promessa de que Frederico defenderia os interesses de al-Kamil contra todos os inimigos, mesmo cristãos.


Frederico, então, entrou em Jerusalém em triunfo no dia 17 de março de 1229 e coroou as si próprio em uma cerimônia improvisada no Santo Sepulcro. No entanto, os nobres locais ficaram magoados por não terem sido consultados durante o processo de negociação e o povo comum não via com bons olhos este monarca estrangeiro se intrometendo em seus negócios. Um grupo de latinos insatisfeitos no Acre até mesmo atiraram carnes e vísceras no Imperador quando ele partiu para casa em maio de 1229. Frederico precisava muito estar de volta à Itália, onde o Papa Gregório IX havia, cinicamente, aproveitado a oportunidade da ausência do Imperador para invadir o sul da Itália, com a Sicília como objetivo principal. Significativamente, o líder do exército do Papa era o próprio sogro do Imperador, Jean de Brienne.


Consequências


Jerusalém permaneceria na posse dos cristãos até 1244, embora tenha ficado o Acre como a capital do Reino de Jerusalém. Com a partida do Imperador e seus dois impopulares regentes nomeados, os nobres latinos continuaram, como antes, com sua rivalidade prejudicial para o controle dos Estados Cruzados. Enquanto isso, al-Kamil recebia críticas por todos os lados, por seu acordo de paz, mesmo entre os príncipes aiubidas, mas finalmente assumiu o controle de Damasco. O controle muçulmano do Oriente Médio ficou muito fortalecido quando um grande exército latino foi derrotado na Batalha de La Forbie, em outubro de 1244. Esses eventos resultariam na Sétima Cruzada (1248-1254) e na Oitava Cruzada (1270), as quais continuaram com a estratégia de atacar as cidades mantidas pelos muçulmanos no Norte da África e Egito. Ambas as campanhas foram lideradas por ninguém menos que o Rei francês, Louis IX (rein. 1226-1270), porém nenhuma delas obteve sucesso, mesmo com Louis sendo, posteriormente, beatificado como santo, por seus esforços.

 

Fonte - Asbridge, T. The Crusades. Simon & Schuster Ltd, 2012.


Maalouf, A. The Crusades Through Arab Eyes. Schocken, 1989.


Riley-Smith, J. The Oxford Illustrated History of the Crusades. Oxford University Press, 2001.


Rosser, J.H. Historical Dictionary of Byzantium. Scarecrow Press, 2001.


Runciman, S. A History of the Crusades Vol. 3. the Kingdom of Acre and the Later Crusades. Penguin Books, 2000.


Tyerman, C. God's War. Belknap Press, 2009.


Conteúdo trazido do portal World History Encyclopedia de nome Sixth Crusade

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