Belisário
top of page

Belisário

Atualizado: há 6 dias

ree

Poucas figuras da Antiguidade Tardia emergem com tanta força, contraste e humanidade quanto Belisário. Seu nome atravessou séculos envolto em admiração, controvérsia e lenda — não apenas por suas vitórias, mas porque ele personifica um ideal que parecia ter desaparecido junto das antigas legiões: o do general romano virtuoso, leal até o sacrifício, brilhante na estratégia e estranhamente imune às tentações do poder. Na história bizantina, onde cortes, intrigas e suspeitas eram instrumentos de governo, Belisário parece deslocado, como se tivesse surgido de uma época mais antiga, mais austera e mais reta.

Para entender sua trajetória, é preciso antes compreender o mundo que o formou.


O Império Romano do Oriente do início do século VI não era um eco enfraquecido da Roma clássica, mas uma civilização vibrante, multifacetada, herdeira de um legado que ainda moldava leis, exércitos e religiões. Justiniano, que subiria ao trono em 527, desejava não apenas manter o que restava do império — ele queria restaurá-lo. Seu governo misturava ambição quase sobre-humana com uma visão profundamente administrativa e espiritual do poder. A lei romana seria recompilada; a ortodoxia cristã seria consolidada; as finanças seriam reorganizadas; e o Mediterrâneo, se possível, voltaria a ser romano.

Era um projeto gigante demais para um homem só — e, por isso, Justiniano precisaria de alguém capaz de transformá-lo em realidade no campo militar. Belisário, ainda jovem oficial, logo se destacaria como esse alguém.


Pouco se sabe sobre sua origem. Nasceu na Trácia, região que, desde o século IV, fornecia grande parte dos soldados do império. A julgar pela rapidez com que ascendeu ao comando, Belisário parecia reunir aquilo que o exército mais valorizava: presença física imponente, olhar firme, disciplina absoluta e uma capacidade rara de compreender, com poucos anos de serviço, a complexidade de uma máquina militar que já não era puramente romana. No século VI, o exército era uma fusão de tradições: infantaria pesada herdada de Roma, cavalaria catafracta inspirada nos persas, arqueiros montados oriundos das estepes, tropas federadas recrutadas entre hérulos, hunos, isáurios e godos. Belisário aprenderia a comandar essa diversidade não como obstáculos, mas como instrumentos complementares.


O jovem general surge nas fontes pela mão de Procópio de Cesareia, que seria seu assessor e, ao mesmo tempo, seu principal biógrafo. Procópio, homem de formação clássica e olhar minucioso, descreve Belisário com uma combinação rara de respeito e crítica. Em História das Guerras, ele o exalta como “o mais notável dos generais de seu tempo”, mas em Anecdota o retrata como homem por vezes indeciso, dominado pelas intrigas domésticas. A dualidade textual revela tanto sobre Belisário quanto sobre Procópio: as contradições do historiador não diminuem o general; ao contrário, tornam mais humano e mais analisável um homem que, por seu comportamento militar impecável, facilmente seria confundido com um mito.


A verdade é que Belisário apareceu em um momento de perigo e oportunidade. O império estava cercado: a Pérsia sassânida ameaçava o Oriente, povos germânicos dominavam o Mediterrâneo ocidental, eslavos pressionavam os Bálcãs e a capital vivia tensões internas que frequentemente explodiam em violência. Ainda assim, Justiniano enxergava possibilidade onde muitos viam ruína. Seus planos exigiam um general que fosse forte o suficiente para vencer, mas obediente o bastante para nunca ameaçar o trono — combinação quase impossível. E, ainda assim, Belisário se encaixava exatamente nesse perfil.


Quando assumiu o comando de Dara, a grande fortaleza romana da Mesopotâmia, Belisário já demonstrava características que se tornariam sua marca: vigilância incansável, capacidade de atrair lealdade genuína e disciplina que impressionava até seus próprios soldados. Ele inspecionava pessoalmente as defesas, estudava as rotas de suprimento, observava a movimentação persa do outro lado da fronteira. Seus soldados o obedeciam não por medo, mas porque viam nele um comandante que nunca exigia mais do que estava disposto a fazer, e que valorizava tanto a ordem quanto a humanidade.

O cenário que moldava Belisário era tenso. O Império Sassânida, governado por Cavades I, não era apenas um adversário tradicional: era uma potência militar de primeira grandeza, com infantaria disciplinada, cavalaria pesada temível e uma estrutura administrativa que rivalizava com a de Constantinopla. Ao contrário de muitos inimigos “bárbaros” do Ocidente, os persas eram um espelho incômodo: uma civilização organizada, militarizada e ambiciosa. E era contra esse inimigo que Belisário enfrentaria seu primeiro grande teste.


Em 530, quando as tropas persas se aproximaram de Dara, Belisário se viu diante de uma batalha que poderia definir sua carreira — e talvez o destino da própria fronteira oriental. O que fez naquele dia permanece como uma obra-prima da estratégia militar antiga. Em vez de confiar apenas na coragem e na força bruta, ele transformou o terreno em aliado, usando valas, arqueiros montados e manobras de flanco para compensar sua inferioridade numérica. Quando o combate começou, os persas avançaram seguros de sua vitória, mas se encontraram presos em um sistema de defesa que parecia antecipar cada movimento seu. Ao fim do dia, o exército sassânida se retirava em desordem, e Belisário emergia como o novo herói de Constantinopla.


Pouco depois, porém, a fortuna mudaria — mas não por culpa do general. Em Callinico, em 531, Belisário enfrentou um ataque feroz dos persas em circunstâncias desfavoráveis. Tropas árabes aliadas fugiram cedo, comprometendo toda a linha. E, ainda assim, o general conseguiu evitar um desastre: organizou a retirada, salvou o exército e impediu que Cosroes explorasse a vitória. A experiência mostrou que Belisário não era apenas brilhante em vencer: era brilhante em sobreviver.


Quando retornou à capital, Constantinopla ardia novamente sob tensões internas. A Rebelião de Nika, que ameaçou derrubar Justiniano, praticamente colocou o destino da cidade nas mãos de Belisário. Foi ele quem, com um grupo de tropas leais, entrou no Hipódromo e esmagou a revolta. Ali, salvou não apenas o trono, mas o projeto imperial — e selou para sempre sua importância política.


Ao restaurar a ordem, Justiniano voltou-se para seu sonho maior: reconquistar o Mediterrâneo. Para isso, precisava de um general cuja lealdade fosse tão firme quanto sua habilidade. Precisava de alguém capaz de vencer com poucos recursos, longe de Constantinopla, administrando tropas multiétnicas e enfrentando adversários que controlavam províncias inteiras. Precisava de Belisário.


A escolha do general para a campanha africana — missão quase suicida — revelou o nível de confiança do imperador. Belisário, por sua vez, aceitou não como honra, mas como dever. Era o início de uma das campanhas mais brilhantes da história militar antiga.


A Reconquista da África


A expedição contra o Reino Vândalo, em 533, exigiu de Belisário não apenas habilidade tática, mas um tipo de inteligência mais sutil e profunda: a capacidade de vencer antes mesmo de lutar. Justiniano, após sobreviver à Rebelião de Nika, estava decidido a iniciar sua grande obra — a restauração do Mediterrâneo romano. E, para isso, escolheu justamente o homem que havia provado ser ao mesmo tempo brilhante nas armas e incorruptível no caráter.


O Reino Vândalo, há quase cem anos estabelecido na África, era uma potência naval considerável. Seus governantes haviam herdado de Genserico a reputação de piratas ferozes e talentos estratégicos, capazes de humilhar Roma ao saquear a própria Cidade Eterna em 455. No entanto, sob Gelimer, o reino sofria fissuras internas profundas: tensões com a população romano-africana, instabilidade sucessória e uma confusão quase permanente entre poder militar e interesses aristocráticos. O momento parecia ideal para Justiniano agir — mas ainda assim a empreitada era arriscada.


Belisário recebeu forças modestas para a missão, muito menores do que qualquer general prudente consideraria suficiente para uma reconquista continental. Era como se Justiniano testasse até onde ia a genialidade do seu comandante e, ao mesmo tempo, limitasse seu potencial político. Com cerca de quinze mil homens, entre comitatenses, bucelários de elite, arqueiros montados hunos e contingentes federados, o general partiu em uma frota que cruzaria o Mediterrâneo inteiro sob os olhos atentos dos deuses — e sob a desconfiança de muitos oficiais.


Durante a travessia, Belisário mostrou novamente por que seus soldados o seguiam não apenas por dever, mas por convicção. Em cada ancoragem, em cada escala, reforçava a disciplina com uma energia serena que impressionava Procópio. Saques, brigas, insultos aos locais — tudo isso era estritamente proibido. Soldados que desobedeciam eram punidos de imediato, não por crueldade, mas por princípios. Belisário sabia o que muitos generais romanos haviam esquecido: a guerra se vence tanto no campo de batalha quanto no coração da população local. Conquistar não é destruir, mas convencer.


Quando a costa africana finalmente surgiu, banhada pela luz branca do sol do Mediterrâneo, não havia sinal de resistência vândala. A ausência do inimigo não era apenas sorte: era consequência direta de uma inteligência estratégica ousada. Gelimer, convencido de que Justiniano jamais ousaria tentar uma invasão tão distante com tão poucos homens, não acreditava na iminência de uma guerra. A imprudência do rei vândalo era a primeira vitória de Belisário.


O desembarque ocorreu com precisão impecável. Os soldados avançaram em silêncio, formando linhas ordenadas enquanto procuravam água e abrigos. A população local, habituada a abusos e exações dos administradores vândalos, ficou surpresa com o comportamento dos soldados romanos-orientais. Nenhuma porta foi arrombada; nenhum animal foi roubado. Belisário, mais uma vez, preparava o terreno moral da campanha antes mesmo de empunhar a espada.


A marcha para Cartago decorreu sob o mesmo espírito. As aldeias testemunhavam o que parecia impossível: um exército que passava como sombra, sem devastação. Esse tipo de comportamento não apenas garantia segurança às costas romanas, mas também criava uma narrativa poderosa: o retorno de Roma, não como invasora, mas como restauradora.

Enquanto isso, Gelimer, finalmente despertado para a ameaça, organizava sua resistência. Ele planejou uma emboscada em Ad Decimum, um estreito desfiladeiro ao sul de Cartago que, se bem utilizado, poderia esmagar Belisário. Era um plano ousado, envolvendo manobras simultâneas de três colunas vândalas — um esquema militar sofisticado, digno dos reis mais astutos de seu povo. Contudo, os vândalos não previram o que significava enfrentar Belisário em um ambiente de incerteza total.


A batalha de Ad Decimum permanece um dos episódios mais extraordinários da carreira de Belisário, justamente por ser um tipo de combate que nenhum general deseja: disperso, imprevisível, fragmentado, onde cada minuto traz notícias contraditórias. Ammatas, irmão de Gelimer, chegou cedo demais ao ponto de emboscada e, surpreendido, foi morto rapidamente. Seu destacamento se desorganizou, criando um vazio estratégico irreparável. Enquanto isso, Gibamundo tentou atacar pela esquerda, mas foi repelido pelos arqueiros montados e pela cavalaria de elite de Belisário, treinada especificamente para esse tipo de engajamento móvel.


Gelimer, ao alcançar o centro da batalha, encontrou o corpo do irmão e, segundo Procópio, caiu em desespero. O rei vândalo, que deveria ter sido o núcleo de coordenação da manobra, desfez-se emocionalmente. A comoção pessoal alterou o destino político de uma nação. Foi nesse instante, entre o luto e a desordem, que Belisário percebeu o momento decisivo. Com um golpe de visão militar, reuniu unidades dispersas, reorganizou a linha e atacou com precisão, transformando um cenário caótico em vitória.


A vitória de Ad Decimum abriu o caminho para Cartago, cidade que havia sido um dos pilares do Mediterrâneo antigo. Os habitantes assistiram, incrédulos, à entrada silenciosa do exército romano-oriental. A disciplina vista no desembarque repetiu-se: templos foram protegidos, armazéns preservados, e os soldados proibidos de qualquer gesto hostil. Era o triunfo do modelo de guerra que Belisário havia reinventado: conquistar sem destruir, dominar sem humilhar, restaurar ao invés de usurpar.


Gelimer recuou, mas não desistiu. Reorganizou suas forças em direção ao oeste e tentou, uma última vez, resistir em Tricamaro. Belisário, com confiança renovada, lançou suas tropas em movimento rápido. O choque decisivo ocorreu quando sua cavalaria, apoiada por arqueiros montados, desfez a linha vândala. Ali, sob o sol africano, desmoronava definitivamente o reino fundado por Genserico. Os vândalos, que outrora haviam aterrorizado o Mediterrâneo, eram derrotados em poucos meses por um exército pequeno, disciplinado e guiado por um gênio militar.


Quando Belisário enviou a Justiniano a notícia da vitória final, o imperador soube que seu sonho de restauratio imperii deixara de ser uma fantasia. O norte da África, com suas ricas fazendas de trigo e sua vasta rede urbana, estava novamente sob autoridade romana. Belisário retornou a Constantinopla em triunfo — um feito tão extraordinário que o Senado o recebeu como os antigos cônsules da República.


Mas o brilho de um general tão celebrado inquietava um imperador cauteloso. A fama excessiva nunca era segura na corte dos Césares tardios. E assim, embora honrado publicamente, Belisário foi também discretamente contido, limitado, observado.

O sucessor dos vândalos seria um inimigo ainda mais desafiador: os ostrogodos na Itália. Aquela terra, berço da antiga Roma, chamava Justiniano com força simbólica poderosa. E, mais uma vez, não havia outro homem capaz de iniciar a conquista a não ser Belisário. A campanha que viria — marcada pela tomada da Sicília, a entrada na península e o maior cerco que Roma sofreria desde a Antiguidade — revelaria tanto a grandeza quanto a vulnerabilidade do general.


A África havia mostrado seu gênio. A Itália mostraria sua alma.


A Reconquista da Itália


Quando Belisário deixou Constantinopla novamente, desta vez rumo à Itália, levava consigo não apenas o peso da confiança imperial, mas também a sombra da desconfiança de Justiniano. Seu triunfo africano havia sido grande demais, rápido demais, perfeito demais. Na corte, murmurava-se que nenhum homem deveria ser tão popular entre os soldados e o povo. Por isso, a nova expedição foi deliberadamente reduzida: tropas mínimas, recursos escassos, ordens incompletas. Mesmo assim, o general aceitou a missão sem hesitar. O mar o aguardava, e com ele a península que fora o berço da própria Roma.


A campanha começou pela Sicília, onde Belisário desembarcou com elegância tática. A ilha, habitada por uma população romano-latina e mal defendida pelos ostrogodos, caiu rapidamente sob controle bizantino. Belisário agiu com a mesma precisão moral e estratégica que demonstrara na África: nenhuma violência gratuita, nenhuma arrogância, nenhuma quebra da ordem. A população, aliviada pela queda de uma administração gótica incerta e decadente, recebeu os bizantinos como libertadores. A Sicília se tornou, assim, a porta de entrada para o coração da Itália.


Da ilha, Belisário avançou para a península. Seu primeiro grande teste seria Nápoles, cidade fortificada e orgulhosa de sua autonomia. Os notáveis napolitanos, divididos entre medo dos godos e esperança nos romanos, tentavam decidir-se. Os góticos defendiam a cidade com determinação, esperando que Belisário não tivesse tempo nem meios para um cerco prolongado. Era um jogo de paciência — e ali Belisário mostrou, mais uma vez, que não era apenas um mestre da velocidade, mas também da lentidão calculada.


Procópio descreve como o general, ao invés de simplesmente atacar, estudou as muralhas, conversou com refugiados e analisou minuciosamente as entradas. Foi então que descobriu, por meio de informantes, a existência de um antigo aqueduto romano, cuja entrada havia sido parcialmente obstruída, mas não totalmente lacrada. Belisário não hesitou. Como se reproduzisse uma cena dos tempos de Fábio Máximo ou Marco Antônio, ordenou que um pequeno grupo de soldados magros e ágeis rastejasse pelo conduto.


O golpe foi preciso: a guarnição gótica, apanhada de surpresa, cedeu, e a cidade se rendeu.

Belisário entrou em Nápoles não como saqueador, mas como restaurador. Protegeu o povo, proibiu qualquer violência contra os civis e garantiu que a cidade fosse tratada como parte do Império. Essa política — rígida e esclarecida — consolidava sua reputação na Itália, ao mesmo tempo em que expunha a fragilidade do domínio ostrogótico.

A queda de Nápoles alarmou o rei dos godos, Vitiges, que organizou uma resposta desesperada. Os godos, menos refinados na arte política, mas profundamente valentes, prepararam-se para combater com todas as forças. Belisário, entretanto, não lhes concedeu tempo. Seguiu pela Via Latina e, com uma combinação de audácia e cálculo, entrou em Roma sem resistência significativa. Era um momento carregado de simbolismo. Em fevereiro de 536, pela primeira vez em quase sessenta anos, a antiga capital do Império Romano voltava a ser governada por um general romano — ainda que um romano oriental.


A recepção dos romanos foi ambígua. Belisário representava a esperança de ordem, mas também trazia consigo o fantasma de uma guerra que a Itália já não possuía recursos para enfrentar. E esse medo se revelaria justificado.


Quando Vitiges soube da queda da cidade, reuniu um exército colossal — Procópio fala em cento e cinquenta mil homens, número provavelmente exagerado, mas suficiente para representar a escala do perigo. O cerco que se seguiu, entre 537 e 538, foi um dos maiores e mais dramáticos da Antiguidade Tardia. Ali, Belisário enfrentaria sua prova máxima.

Roma, embora monumental, era difícil de defender. Suas muralhas, vastas demais, exigiam número enorme de homens para cobertura adequada. Belisário tinha poucos. Mas onde outros veriam desvantagem, ele via oportunidade. Transformou a cidade em uma fortaleza viva, movimentando suas tropas como peças de xadrez, sempre no lugar exato, na hora exata. A habilidade com que distribuía homens, munições e recursos fez com que os godos jamais conseguissem explorar um único ponto fraco.


O cerco começou com violência. Os godos tentaram atacar simultaneamente diversos setores da muralha, esperando que a sobrecarga quebrasse a defesa. Mas Belisário antecipou-se. Ele cavalgava de bastião em bastião, às vezes com apenas um pequeno grupo de bucelários, incentivando soldados exaustos com poucas palavras — sempre firmes, sempre calculadas. Sua presença transformava homens comuns em defensores quase míticos.


Os godos então mudaram de tática. Em vez de ataques diretos, tentaram controlar o abastecimento. Roma, cidade imensa, dependia dos aquedutos. Vitiges ordenou que fossem cortados — e com isso começou o sofrimento mais cruel de todos: a fome. Procópio descreve romanos esmolando pão, soldados repartindo grãos, mulheres vendendo móveis para comprar água. Belisário, mesmo assim, manteve a ordem, redistribuiu mantimentos, improvisou cisternas e, com a lucidez de um engenheiro antigo, transformou o infortúnio em resistência.


No auge do cerco, os godos construíram torres móveis, aríetes e máquinas de assalto, tentando forçar uma brecha na muralha. Mas Belisário havia preparado catapultas, arqueiros e unidades móveis que surgiam onde eram menos esperadas. O general fez de Roma uma extensão de sua mente: flexível onde precisava, dura onde convinha, imprevisível como um exército invisível.


Um momento decisivo ocorreu quando os godos pressionaram a Porta Salária. Era uma das áreas mais vulneráveis da muralha, mas Belisário, atento, posicionou arqueiros montados do lado interno, prontos para uma contraofensiva. Quando a torre gótica se aproximou, ele ordenou um ataque que combinou flechas incendiárias e cargas rápidas. A torre foi destruída. Procópio descreve o episódio como “uma onda que cai sobre uma pedra e, ao invés de quebrá-la, desfaz-se em espuma”.


O cerco arrastou-se por meses, até que a fome começou a atingir também o exército godo. Vitiges, incapaz de sustentar suas linhas por tanto tempo, recuou. Roma estava salva — e salva por um exército diminuto, comandado por um homem cuja genialidade já beirava o lendário.


Essa vitória monumental aumentou ainda mais a fama de Belisário na Itália. Mas, como sempre, também aumentou a inquietação de Justiniano. O imperador via, de Constantinopla, um general sendo celebrado como salvador da Roma eterna — honra que nenhum governante desejava compartilhar. Apesar disso, Justiniano não podia substituí-lo. Nenhum outro oficial possuía sua habilidade, sua inteligência, seu autocontrole. Se a Itália seria reconquistada, seria pelas mãos de Belisário, e de ninguém mais.


O general seguiu então para o norte, enfrentando Vitiges e os godos em novas campanhas, cujo desfecho transformaria por completo o destino da península. Mas, por trás de cada vitória, crescia também a tensão política que marcaria a relação entre Belisário, Justiniano e Teodora.A Itália provaria não só o talento do general — provaria sua alma.


Ravena, a oferta dos godos e o retorno ao império que não sabia lidar com seu maior general


Depois de salvar Roma, Belisário tornou-se, para os italianos, mais do que um comandante bizantino: tornou-se um símbolo. Sua presença na península era a materialização da antiga promessa imperial — a de que Roma nunca seria totalmente abandonada. Mas, embora o general tivesse conquistado o coração da cidade, o destino ainda reservava a ele desafios muito maiores. A guerra gótica estava longe de terminar.

Vitiges, após o fracasso no cerco, retirou-se para o norte, reunindo o que restava da autoridade ostrogótica. Os godos, embora enfraquecidos, ainda controlavam vastas regiões e contavam com apoio de chefes regionais que viam na luta contra os bizantinos uma defesa legítima de sua autonomia. Belisário conhecia essa mentalidade: sabia que a guerra não seria ganha apenas com vitórias em campo aberto, mas com desgaste constante da moral inimiga.


O general avançou pacientemente, recuperando cidades uma a uma. As defesas góticas ruíam não porque faltasse coragem — os godos eram guerreiros formidáveis —, mas porque lhes faltava direção. Vitiges era valente, mas não era estrategista. Sua liderança enfraquecida tornava a guerra um exercício de esperança perdida.


Belisário, ao contrário, parecia mover-se com a inevitabilidade de uma maré. Seus soldados, desgastados, famintos e reduzidos em número, mantinham-se firmes por causa de sua confiança absoluta no general. Procópio, testemunha próxima, descreve como Belisário conseguia extrair disciplina até dos homens mais exaustos: um olhar, um gesto, uma frase curta dita no momento certo produziam mais efeito do que discursos longos.

O último grande bastião gótico era Ravena, capital do reino, uma cidade cercada de pântanos, canais e defesas naturais quase inexpugnáveis. Ali, Vitiges reuniu suas últimas forças, esperando que o inverno e a geografia o protegessem. A cidade, com suas cúpulas e mosaicos herdados dos tempos de Teodorico, parecia destinada a resistir a qualquer exército.


Belisário, porém, sabia que uma vitória em Ravena não viria de um assalto direto. Entendeu que deveria vencer não pela força, mas pela mente.Assim, iniciou um cerco lento, cortando suprimentos, controlando os canais e capturando embarcações que tentavam abastecer a cidade. Ravena, isolada, começou a definhar.


É nesse ponto que ocorre um dos episódios mais extraordinários — e mais paradoxais — de toda a carreira de Belisário.


Os godos, desesperados pela fome e pela falta de perspectiva, reuniram seus líderes e decidiram tomar uma decisão que mudaria o curso da guerra: ofereceram a coroa da Itália ao próprio Belisário.


Para um general comum, a proposta seria a realização máxima da ambição. Para muitos dos grandes comandantes da história romana, como Júlio César ou Constâncio Cloro, tal oferta teria sido o início de um novo império. E, num sentido estritamente militar, Belisário tinha todos os motivos para aceitá-la. Roma o venerava, Ravena prestes a se render, os godos o viam como salvador, e Justiniano estava longe, cercado por intrigas e receios. A península inteira estava pronta para colocá-lo no trono.


Mas Belisário não era um general como os outros.


Procópio narra o episódio com um misto de admiração e perplexidade. Belisário ouviu a proposta, manteve a calma e, com aparente serenidade, aceitou-a — mas apenas como estratagema. Quando os portões de Ravena se abriram e toda a cidade se rendeu a ele como seu novo rei, Belisário realizou o impensável: recusou a coroa e declarou que a cidade, as terras e o reino pertenciam a Justiniano.


Foi um golpe de mestre — e um gesto de lealdade absoluta. Ravena caiu sem derramamento de sangue, e toda a região norte da Itália passou ao controle romano. Para Justiniano, foi uma vitória incomparável. Para Belisário, foi o momento em que provou, de maneira mais clara do que em qualquer campo de batalha, que sua virtude superava sua ambição.


Mas esse gesto, paradoxalmente, não gerou gratidão completa. Na corte, muitos interpretaram a facilidade da rendição como prova de que os godos realmente o queriam como rei — e, portanto, que Belisário era uma ameaça à estabilidade imperial.O imperador, embora publicamente elogiasse o general, não ignorava os sussurros da aristocracia. Como sempre, a glória de Belisário vinha acompanhada do veneno da suspeita.


Ele foi convocado de volta a Constantinopla.Chegou não como rebelde, mas como triunfador — e ainda assim encontrou um clima de frieza elegante, típico da corte bizantina. Justiniano e Teodora o receberam com honras, mas também o mantiveram sob vigilância. A imperatriz, em especial, desconfiava profundamente de Antonina, esposa de Belisário, cuja amizade com ela própria vivia entre alianças e rivalidades.


O general não recebeu, como muitos esperavam, o comando pleno da Itália após o retorno. Justiniano — talvez aliviado por tê-lo longe do perigo de aclamações locais — preferiu reorganizar o comando e dividir responsabilidades.E foi nesse momento que surge a figura de Narses, eunoco e mestre dos ofícios, homem habilíssimo na política e cada vez mais influente na administração militar. Justiniano via Narses como instrumento ideal para contrabalançar o prestígio de Belisário.


Essa divisão de comando geraria fricções constantes. Na Itália, autoridades locais, tropas federadas, oficiais bizantinos e até bispos se perguntavam quem realmente comandava. Belisário, apesar de sua disciplina rígida, mostrava irritação crescente com interferências de Narses. A cooperação entre os dois, sempre tensa, refletia a estratégia de Justiniano: manter ambos úteis, mas impedir que qualquer um se tornasse indispensável demais. Belisário via tudo isso com uma mistura de paciência e resignação. Ele jamais se rebelaria. Sua lealdade ao império era mais profunda do que o receio de qualquer intriga — mas, para muitos historiadores, esse foi o preço que pagou por seu caráter íntegro. O homem que poderia ter sido rei em Ravena tornava-se, novamente, um general sem plena autonomia.


Mesmo assim, sua relevância estava longe de terminar. Logo, Justiniano voltaria a chamar o único homem capaz de salvar o Oriente de um inimigo ainda mais temível.O próximo chamado não seria para reconquistar — mas para impedir o colapso absoluto.

O império precisaria de Belisário uma última vez.


O último chamado: A guerra contra a Pérsia


Quando Belisário retornou a Constantinopla após a campanha italiana, trazia consigo a glória da reconquista e o peso amargo da desconfiança imperial. No entanto, o império estava prestes a enfrentar um adversário mais antigo e mais temível do que os godos da Itália. À sombra das muralhas orientais, o grande inimigo tradicional — o Império Sassânida — preparava um novo ataque. E, apesar da cautela, da política e das intrigas, Justiniano sabia que apenas um homem poderia impedir o colapso das províncias orientais.Mais uma vez, o império chamava por Belisário.


O retorno do general ao fronte oriental tinha um sabor diferente daquele vivido em Dara ou Callinico. Ele já não era o jovem ousado que desafiara os persas anos antes. Agora era o general mais celebrado do Mediterrâneo, mas também um homem politicamente vigiado, limitado e frequentemente deixado sem os recursos necessários. Sua genialidade era inegável; sua autonomia, nunca permitida. Justiniano o enviou para o Oriente com ordens amplas, mas com exércitos reduzidos — talvez testando, mais uma vez, os limites da fidelidade e da capacidade do general.


Cosroes I, o soberano sassânida, era um dos mais brilhantes governantes da história persa. O “Justo”, como seria lembrado na tradição iraniana, era adversário à altura. Combinava inteligência administrativa com ambição expansionista e compreendia que atacar o Império Romano no momento de suas grandes campanhas ocidentais poderia enfraquecê-lo definitivamente. Assim, organizou incursões rápidas, destruiu cidades, incendiou fortalezas e avançou com a confiança de quem acreditava não haver rival capaz de enfrentá-lo.


Belisário chegou a uma fronteira devastada, onde cidades outrora prósperas agora se encontravam arrasadas, e guarnições antes disciplinadas estavam em ruínas. Sua chegada, porém, restaurou algo mais valioso que muralhas: restaurou a esperança. A simples visão do general cavalgar diante das tropas despertava nas fileiras uma disciplina esquecida. Homens que antes fugiam ao primeiro ataque começavam a resistir; oficiais que haviam perdido a coragem retomavam o vigor.


A guerra que se seguiu não teve grandes batalhas campais com o brilho de Dara. Foi, antes, uma guerra de contenção, inteligência e rapidez. A cada movimento persa, Belisário respondia com manobras precisas. A cada cerco iniciado por Cosroes, ele surgia como uma sombra inesperada, obrigando o inimigo a recuar. A fronteira que estava prestes a ruir se estabilizou.E Belisário, mesmo sem recursos, salvou novamente o império.

Procópio, em De Bellis, descreve esses episódios com admiração, embora em sua História Secreta procure minimizá-los, reflexo de sua própria relação complexa com o general. A verdade histórica, porém, prevalece: Belisário foi a única razão pela qual Cosroes não atravessou a Anatólia como tempestade.


Mas o desgaste político continuava. Intrigas, receios e invejas corroíam sua posição na corte. Justiniano, embora dependente do general, temia sua popularidade — e Teodora, sempre atenta ao jogo de poderes, desconfiava da influência de Antonina, esposa de Belisário.Assim, ao invés de recompensas, o general recebia atrasos, limitação de tropas, cargos ambíguos. Era a velha história de Roma recontada: os melhores eram celebrados e, ao mesmo tempo, encurtados na sombra da própria glória.


Ainda assim, Belisário manteve sua lealdade. Não conspirou, não tramou, não tentou usurpar. Era, até o fim, um soldado do império.


E então surge um dos episódios mais famosos — e mais distorcidos — de sua biografia: o mito do “Belisário cego e mendigo”.


Na tradição posterior, sobretudo a partir da Idade Média e do Renascimento, espalhou-se a lenda de que Justiniano, temendo o prestígio de Belisário, teria mandado cegá-lo e reduzido-o à condição de mendigo. Pinturas, poemas e peças dramáticas europeias popularizaram a imagem do grande general sentado à beira da estrada, pedindo esmola e murmurando “Dai esmola a Belisário”.


Mas a historiografia séria é unânime: é mito.


Não existe, em Procópio, Agátias, João Malalas ou em qualquer fonte do século VI, qualquer menção a cegamento, prisão injusta ou mendicância. Belisário, por fim, foi brevemente acusado de conspiração — acusações provavelmente falsas, fruto da política bizantina — mas foi totalmente reabilitado pouco depois. Morreu em sua casa, em Constantinopla, rico, respeitado e ainda muito influente.O mito surge apenas séculos depois, alimentado por moralistas que queriam denunciar a ingratidão dos governantes.

Assim, ao contrário da lenda, o fim de Belisário foi digno. Não morreu cego, nem pobre, nem desprezado. Morreu como viveu: discreto, silencioso, fiel ao império até o último dia.

Seu legado, porém, ultrapassa sua própria vida.


Belisário representa algo raro: o último lampejo puro da tradição militar romana.Representa o general capaz de vencer persas e godos, de reconquistar Cartago e salvar Roma, de combater sem hesitar e de recusar uma coroa oferecida pelos próprios inimigos. Representa, sobretudo, a virtude em sua forma mais antiga — a que antepõe dever a ambição, honra a poder, império a si mesmo.


Procópio o chamou de “o mais perfeito dos generais de sua época”.Norwich o definiu como “o último grande romano”.Treadgold, mais sóbrio, afirmou que, sem ele, o reinado de Justiniano teria sido “menos uma era de glória e mais uma era de caos”.

E talvez o elogio mais profundo seja o que não foi escrito, mas apenas sugerido pelas entrelinhas das fontes: Belisário era aquilo que Roma desejava ser, mas raramente conseguia. Sua vida inteira foi uma prova de que ainda havia grandeza possível na Antiguidade tardia — grandeza humana, militar, moral.


Quando morreu, o império não percebeu que perdia não apenas um general, mas um símbolo.Depois dele, Constantinopla ainda teria comandantes brilhantes — Narses, Heráclio, Nicéforo Focas — mas nenhum com a mistura tão completa de força e integridade.


Belisário não reconstruiu Roma.Mas encarnou seu espírito pela última vez.

E, por isso, atravessou séculos como o general que não venceu apenas batalhas — venceu o tempo.


Conclusão


A figura de Belisário permanece, ainda hoje, como uma das mais extraordinárias de toda a Antiguidade Tardia. Em um mundo marcado por instabilidade, guerras intermináveis e intrigas políticas, sua trajetória desponta como um raro exemplo de grandeza militar associada à integridade pessoal. Num império em que o medo da traição era cotidiano, Belisário se destacou não pelo desejo de poder, mas pela fidelidade a um ideal que já parecia quase esquecido: o serviço absoluto ao Estado.


Sua carreira abrangeu todos os extremos da experiência romana tardia. Viu a Pérsia se erguer com força renovada sob Cosroes, testemunhou a corte de Justiniano flutuar entre grandeza e paranoia, assistiu à rebelião incendiar Constantinopla e atravessou o Mediterrâneo para destruir um reino inteiro com um exército menor do que muitos destacamentos provinciais. Na Itália, enfrentou não apenas o exército gótico, mas a própria história: comandou a defesa de Roma como nenhum general desde Aécio e fez ecoar, nas muralhas antigas, o último grande gesto de resistência genuinamente romana.


E ainda assim, talvez seu momento mais significativo não tenha sido uma vitória. O episódio decisivo de Ravena — quando lhe ofereceram a coroa da Itália — revela mais do que qualquer batalha sobre a natureza do general. Belisário, diante da possibilidade real de fundar uma dinastia, escolheu renunciar. Escolheu o império, e não a si mesmo. Escolheu a lealdade, não o poder. Seu gesto sintetiza tudo o que o distingue dos grandes conquistadores: para ele, glória não era um fim, mas consequência do dever.


A relação com Justiniano, sempre marcada por respeito público e suspeita privada, representa um dos dramas políticos mais delicados de seu tempo. O imperador jamais ousou dispensar Belisário, mas jamais permitiu que ele se tornasse forte demais. Assim, enviava-o para salvar o império, mas lhe dava tropas insuficientes; concedia-lhe vitórias, mas cortava-lhe autonomia; chamava-o ao trono da glória e depois o mergulhava nas sombras da corte. Belisário, por sua vez, respondia sempre da mesma forma: com obediência. Sua grandeza nunca se converteu em ambição.


Na última fase de sua vida, enfrentou novamente os persas, não com a explosão da juventude, mas com a sabedoria de quem compreendia que a guerra nem sempre é conquista, mas defesa. Mesmo diminuído politicamente, salvou novamente o Oriente — e, novamente, sem reconhecimento pleno. A lenda tardia do “general cego e mendigo” revela menos sobre a história real e mais sobre a percepção que gerações posteriores tiveram: a de que Belisário foi grande demais para ser acompanhado por governantes à sua altura.

Para os estudiosos modernos, porém, sua figura é clara. Belisário foi um dos maiores comandantes da história — comparável a Cipião, César, Beluário e Narsete — e talvez o mais virtuoso de todos. Conquistou reinos com forças mínimas, derrotou inimigos maiores, salvou cidades inteiras e jamais sacrificou sua ética pessoal.


Seu legado transcende a política e chega à essência do que significava ser romano no século VI: disciplina, dever, resiliência, fidelidade, honra. Nele, vê-se a última chama de um espírito que, pouco depois, seria engolfado pela história turbulenta dos séculos seguintes. A posteridade o reconheceu como “o último grande romano” — título que, longe de ser excessivo, resume perfeitamente a profundidade de seu papel.


Belisário não reconstruiu o mundo. Mas preservou o que ainda podia ser salvo — e, por isso, sua sombra continua a ecoar nas muralhas de Roma, nas areias da África e nos campos da Mesopotâmia. Talvez nenhum outro general bizantino tenha sido tão essencial para a sobrevivência do império. E nenhum outro tenha sido tão injustiçado por isso.

No fim, Belisário nos mostra que a verdadeira grandeza não está apenas em vencer batalhas, mas em recusar coroas.E é por isso que seu nome permanece como um dos mais luminosos da história militar de todos os tempos.

Fontes


PROCOPIUS. History of the Wars. Trad. H. B. Dewing. 7 vols. Cambridge, MA: Harvard University Press (Loeb Classical Library), 1914–1940.


PROCOPIUS. The Secret History. Trad. H. B. Dewing. Cambridge, MA: Harvard University Press (Loeb Classical Library), 1935.


AGATHIAS. The Histories. Trad. Joseph D. Frendo. Berlin: De Gruyter, 1975.


JOHN MALALAS. Chronographia. Trad. Elizabeth Jeffreys. Melbourne: Australian Association for Byzantine Studies, 1986.


BROWNING, Robert. Justinian and Theodora. London: Thames & Hudson, 1996.


CAMERON, Averil. The Mediterranean World in Late Antiquity: AD 395–700. London/New York: Routledge, 2015.


GREATREX, Geoffrey; LIEU, Samuel. The Roman Eastern Frontier and the Persian Wars (Part II: 363–630). London/New York: Routledge, 2002.


KAŽDAN, Alexander (Ed.). The Oxford Dictionary of Byzantium. 3 vols. Oxford: Oxford University Press, 1991.


NORWICH, John Julius. Byzantium: The Early Centuries. London: Penguin, 1990.


TREADGOLD, Warren. A History of the Byzantine State and Society. Stanford: Stanford University Press, 1997.


WHITBY, Michael. The Emperor Maurice and His Historian: Theophylact Simocatta on Persian and Balkan Warfare. Oxford: Oxford University Press, 1988 (contextual para estratégia tardo-antiga).

Apoio

Movavi - Editor de video - Parceiro História Medieval
WHE - Enciclopédia Mundial - Parceiro História Medieval

© História Medieval 2025

Curitiba / Pr

bottom of page